não tenho tempo

não tenho tempo

os infinitos segundos escoam-se rápido para mim

sei hoje meu futuro finito

outrora estrada infinita,

meu tempo hoje é quintal.

não tenho tempo

outroras acotovelam-se na frente de casa

histórias tenho aos montes.Quais os ouvintes?

à minha volta todos estão correndo

nos sonhos da madrugada todos estão morrendo

não tenho tempo

meus míseros e prosaicos dias de mortal

mingüam decididos pelo ralo dos esquecidos

o tempo que resta fica cada vez mais caro

e eu não tenho nada muito caro em casa

não tenho tempo

textos imemoriais aguardam na estante

a tarde de ócio que não tenho

recebo a nota do quanto estão pagando

pelo meu tempo.Para os patrôes e as contas

meu tempo está barato

não tenho tempo

só que o tempo para mim é vital

me recuso a embrulhá-lo para viagem

e engoli-lo de única vez

numa esquina lotada da existência

tempo para mim é ar

não tenho tempo

sufoco!sufoco!

abram-se as janelas,

arranquem-se as cortinas

entre pela acanhada janela o vento forte

inunde de agora meu quarto acanhado de amanhã!

quero mais tempo

tempo dos olhos de meu filho

tempo do sorriso da minha mulher

tempo do cheiro da chuva no asfalto

tempo do riso

tempo da companhia dos meus cães

tempo de loucuras embriagadas sem necessidade

tempo de acaso

poéticamente se constrói meu tempo

sou feito dele,

sou filho do tempo