Três Horas

São três horas e um minuto e meio.

Perdi o sono e o receio

e o Poema não veio.

Sei-me saudoso de alguém,

mas não sei de quem.

Seria bom, talvez,

um horoscopo chinês,

alguma sensatez

e alguém que ouvisse

meu rosário de tolice.

Fumo outro cigarro

nesse tempo bizarro.

A roda da noite parece emperrada,

pois a ausência de tudo e de nada

é só o que recheia essa madrugada.

O ponteiro inerte

apenas reflete

o verso sumido

e o Canto desaparecido.

E ainda são três, no relógio espremido.

O costumeiro Dienpax

não me trouxe a "romana pax".

Tento um escrito notório,

Mas só consigo a mesmice de Cartório.

Combate inglório

do pseudo poeta finório.

As três da matina,

nada se aproxima.

Quero subornar o sono,

mas outrem já se lhe diz o dono.