ALEGORIA MARINHA
A vida vale pouco para o banhista
que entra mar a dentro.
(um casal de namorados, sobre as dunas
entra um dentro do outro)
Os guarda-vidas com seus potentes binóculos.
A sociedade com suas idiossincrasias.
Vale a vida?
Dói a musculatura das pernas.
O personagem suicida perde
a derradeira prancha.
As ondas copulam, descaradamente
e gozam na sua cara arfante.
Mar e praia batem no rosto
do amor que afunda.
A mãe d’água, vexada, fecha a cara
e se esboroa na areia.
Rente ao corpo do suicida
o lombo do peixe morto
reluz ao sol.
– Do livro O POÇO DAS ALMAS. Pelotas: Universidade Federal, 2000, p. 61. Na edição original, o poema intitulava-se “MARINHA”.
http://www.recantodasletras.com.br/poesias/2719466