A Efêmera Graça dos Rastros Nostálgicos

Vide, tudo é efêmero, meu amor.

De todas graciosas belezas,

Vivas ou passadas, feridas

Abertas ou cicatrizadas.

De todas lástimas já choradas

E toda fé despedaçada,

Nada remanescerá, nada sobrará

Se não meros rastros nostálgicos.

Pois de todos atrozes obstáculos

Implacavelmente prostados

No fronte de nosso caminhar inane,

O registro da memória é tudo que temos.

Tudo que de fato possuímos,

Tal reles conjunto de imagens,

Uma coleção de rostos identificáveis,

De risos e punhais no coração.

E o peso de uma bagagem de emoção

Nas costas do semblante

De nossa alma pulsante.

Esse fluente inconsciente de sentir,

De dar sentido ao existir.

De todos bens materiais,

De todas bebidas e todos entorpecentes,

De todas lágrimas, de todos sorrisos,

Restarão apenas as cicatrizes decadentes

Daquilo que em cruel brasa marcou.

Daquilo que matou, que morreu.

Do interruptor que se pressionou

Para a luz que se desacendeu,

Que apenas iluminará distante,

Com a graça de uma estrela

Morta, o rastro na eternidade do céu.

Marcas... Cicatrizes... Tais rastros nostálgicos...

Memórias em desatino, a perder o sentido,

A perecer constantemente junto de nossa carne...

A perecer... A perecer...

Tantas metáforas somente

Para expressar, de fato dizer:

Colecionarei boas lembranças

Como obras de arte,

Como romances na biblioteca

Que adentra minha cabeça.

Pois para tecer sorrisos,

Afirmar identidade, basta ler

Tais bons livros e escrever novas obras...

Atuar, somente. Apenas

Viver, simplesmente.

Ironic
Enviado por Ironic em 09/01/2011
Código do texto: T2719285
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