A Efêmera Graça dos Rastros Nostálgicos
Vide, tudo é efêmero, meu amor.
De todas graciosas belezas,
Vivas ou passadas, feridas
Abertas ou cicatrizadas.
De todas lástimas já choradas
E toda fé despedaçada,
Nada remanescerá, nada sobrará
Se não meros rastros nostálgicos.
Pois de todos atrozes obstáculos
Implacavelmente prostados
No fronte de nosso caminhar inane,
O registro da memória é tudo que temos.
Tudo que de fato possuímos,
Tal reles conjunto de imagens,
Uma coleção de rostos identificáveis,
De risos e punhais no coração.
E o peso de uma bagagem de emoção
Nas costas do semblante
De nossa alma pulsante.
Esse fluente inconsciente de sentir,
De dar sentido ao existir.
De todos bens materiais,
De todas bebidas e todos entorpecentes,
De todas lágrimas, de todos sorrisos,
Restarão apenas as cicatrizes decadentes
Daquilo que em cruel brasa marcou.
Daquilo que matou, que morreu.
Do interruptor que se pressionou
Para a luz que se desacendeu,
Que apenas iluminará distante,
Com a graça de uma estrela
Morta, o rastro na eternidade do céu.
Marcas... Cicatrizes... Tais rastros nostálgicos...
Memórias em desatino, a perder o sentido,
A perecer constantemente junto de nossa carne...
A perecer... A perecer...
Tantas metáforas somente
Para expressar, de fato dizer:
Colecionarei boas lembranças
Como obras de arte,
Como romances na biblioteca
Que adentra minha cabeça.
Pois para tecer sorrisos,
Afirmar identidade, basta ler
Tais bons livros e escrever novas obras...
Atuar, somente. Apenas
Viver, simplesmente.