Sorte de Ser Poesia
Quero a sorte de ser poeta morto
Antes do abrir-de-cortinas do céu
E do início do transitar
Frenético dos homens-máquina.
Quero a sorte de ser boêmio,
Poeta ébrio na liberdade da noite.
Livre das grades abstratas
Que tanto sufocam o bicho-homem.
Quero a sorte de ser apaixonado
Enlouquecido, de cantar serenatas
Aos pés das janelas
Das moças mais belas
Aonde romance virou coisa de poeta.
Quero a sorte de ser vagabundo,
De ser louco. De ser o resto do pouco
Que restou dos hereges,
Dos que negaram a se converter.
E quero a sorte de ser poesia,
De ser sentimento desvairado,
Despreocupado, apenas instinto.
Apenas sentido pra existir.
Nós somos o que sentimos,
Então deveríamos aceitar o ser.
Questionar as ordens e desobedecer.
Escutar a voz ignota das emoções.
Pois quem já não sente
De fato já não é.