Algumas perguntas e respostas
Uma noite, saí andando sozinho e perguntei à lua,
Porque estava triste, se escondendo atrás das nuvens.
E ela, silenciosa, foi embora, e não me disse nada.
Fiquei triste também mas, continuei a ir, a caminhar,
A caminhar sempre, por uma noite escura e sem luar.
Perguntei às estrelas por que escondiam seus brilhos.
E elas, apagando seus cintilos não me responderam.
Preferiram se esconderem atrás das brancas brumas
Que já anunciavam a madrugada que já nascia.
E continuei a caminhar para o dia que vinha.
E continuei a caminhar até que veio a fria manhã.
E com ela veio o sol atrás dos montes esfumaçados.
Perguntei porque não aquecia o dia que nascia...
E ele, mudo, preferiu ficar atrás de uma nuvem cinza.
E deixar o dia ainda mais tristonho e cinzento.
E caminhando fui pelos campos junto com o vento
Que era o único que cantava nas ramarias das árvores.
Perguntei ao vento porque cantava nas copas orvalhadas.
E ele, de repente, ficou parado e emudecido no ar.
E o silêncio tomou conta de todas as folhas do campo.
Fiquei triste e sentei à uma sombra à beira da estrada
Onde morava uma mimosa e singela flor campestre.
Perguntei a ela o porque de tamanha beleza rupestre
Mas, só caiu uma lágrima de orvalho na pedra do caminho
Que secou no pó amarelado da estrada poeirenta.
Perguntei às relvas porque dançavam na suave aragem
Que embalava dolente as suas folhas verdes e viçosas.
E elas pararam o bailado das folhagens nas brisas
E quedaram mudas na paisagem da campina inerte.
Como um quadro ,que pintado nada mais sai do seu lugar.
Ví um rio, e com ele andei até uma praia de areias brancas
Perguntando-lhe o porque dos cantos nas lapas rochosas.
E as águas, tristes somente sussuraram um leve murmúrio
Que levaram ligeiras para as águas do mar infinito.
Deixando no ar a certeza de nunca mais ali voltarem.
Chegando à praia, quis saber o porquê de tamanho silêncio
Das marolas suaves que beijavam suas areias alvas.
E a praia das ondas mudas, só silenciava os meus passos
Que afundavam no silêncio das finas areias brancas
Deixando as marcas de um caminho mudo e incerto.
Perguntei ao imenso mar de ondas de águas verdes azuis
Porque também ele estava emudecido em seus embalos.
Apenas uma furtiva onda, silenciosa molhou os méus pés
Para depois sumir na imensidão do oceano distante
Abandonando para sempre o álveo suave da margem.
Um pouco adiante, ví uma gaivota pousada à beira da orla.
Esta sim, me diria algo com seu agudo e sonoro grasnado.
Me aproximei para saber porque a natureza estava muda
E ela, simplesmente, abriu as asas e em um vôo ligeiro
tornou-se só um ponto pequeno no distante horizonte azul.
Estava só e não restava mais ninguém para perguntar
Senão aos peixes que nadavam mudos na água fria e azul.
E eles, no silêncio de seus mundos me fizeram entender
Não com o acordes que tangem os ouvidos, mas a alma
O porque que não ouvia na mente as minhas respostas
A lua me disse que durante muitas noites de minha vida
Muitas luzes vieram e eu as apaguei com a minha cegueira.
Bastava um pequeno lume, mesmo brasa no meu caminho
Que já seria uma luz para os meus passos na escuridão.
E quantas vezes não os vi, procurando por uma fogueira?
As estrelas me disseram que nos sonhos da minha vida,
Muitos cintilaram no céu distante, mas a ilusão de sentí-los,
Mesmo distantes, traziam-me as suas luzes que eram reais.
E meus olhos fecharam às realidades de meus passos
E negaram-me os brilhos nas noites escuras por onde andei.
As manhãs me mostraram o quanto elas foram em vão
Vindas após noites escuras e incertas dos sonos insones.
Trazer-me um novo dia, promessa de mudança e de luz.
E fechando os olhos, continuava a dormir o meu sono
Povoado de sonhos que não queria vê-los à luz do dia.
O vento mostrou-me quantas vezes deixei de escutar
As melodias simples dos sons que povoaram a minha vida.
Tornei-me surdo às notas que eram os meus acordes
Que compassavam meus passos pelos caminhos reais
Para procurar sinfonias ideiais que jamais existiram
A flor me mostrou, na lágrima silente que caiu das pétalas
Quantas outras fiz sair de olhos que deram a vida por mim.
vidas que quantas vezes minguei na aridez de meu espírito,
Secando na alma, sementes que foram lançadas com amor
E queriam apenas tornarem-se sombra aos meus passos.
E as relvas inertes, mostraram-me as tantas vezes que parei
E cruzei os braços sem dobrar-me às exigências das lutas.
E não cedia meu tronco fraco às tempestades fortes da vida.
E lá vinham as mudanças que me deixavam desvalido
Pois continuava parado, fincado os pés no mesmo lugar.
O rio ligeiro nas pedras lisas murmurou-me em sussuros
Sobre as muitas pedras que encontrei em meu caminho.
Deveria parar, represar minha forças e continuar a caminhar.
Mas preferí espalhar nas margens perdendo toda a força
De vencer as lapas dos leitos que me levaria ao mar.
A praia mostrou-me, quando silenciara aos apelos da vida
Deixando muitas vozes morrerem no meu escutar insensível.
Preferia as areias macias que emudeciam as ondas do mar
Que as rochas rudes que as desafiam em altos brados,
Nas marés da vida que vinham buscar o meu refúgio.
O mar me disse nas ondas que iam e viam do oceano,
Quantas as esperanças que vierem sutís a me acalantar,
Tantas foram as que deixei perdidas no longo caminhar.
Nasciam dos sonhos que vinham lá do infinito da alma
Para morrerem aos meus pés, nos passos da vida.
A gaivota branca emudecendo seu alarido me mostrou,
As vezes que preferia bater asas e voar para bem longe.
E escondendo-me como um ponto no horizonte distante
Negava a realidade da minha existência na reta infinita,
Quando a verdade vinha a cobrar a minha parte da vida.
Vieira.