SOB O SOL POTIGUAR

Verde é a placidez das algas.

O navio tange a linha do horizonte.

Na mesa, navega-se em conchas,

carnes de sol, peixes e pálidas alfaces.

Morna é a cerveja no gole túrgido

do que vai e fica.

Tudo brinca de esconde-esconde...

Caminho sobre águas de mar vivo,

ciclones no pensamento.

Clones de mim pairam extáticos.

Ondas bebem as margens de Natal.

Por entre torres de navegação,

faróis de dunas,

bases de rastreamento de satélites

e o Forte dos Reis Magos,

espia o olho mágico da história.

Repleto, molho os pés

na bênção de estar vivo.

Mais que o existir, o furtivo canto

é névoa além dos óculos.

Esfumam-se imagens nos filmes

do ontem,

silhuetas alongadas.

Reina o grito revolucionário de André de Albuquerque

no calabouço do Forte.

Dormitam ideais brasílicos na Praça da Ribeira.

Sol e vento nessa tarde cabocla

de musgos e arrecifes.

Tudo brinca de esconde-esconde...

É nordestina a bússola do destino.

– Do livro O POÇO DAS ALMAS. Pelotas: Universidade Federal, 2000, p. 58. Poema reformado.

http://www.recantodasletras.com.br/poesias/2718161