proesia/aforismos
RAUL SANTOS SEIXAS
Isaac Soares de Souza
Maluco-Beleza,Magro abusado,
Demolidor solitário/Raul Santos Seixas
O mago baiano/Dom Quixote e cigano
Gênio ou louco? Santo ou demônio?
Apenas um homem e seu calvário!
Cadê Dom Raulzito, o metamorfônico?
A poesia perdeu o “p”
A música permanece desafinada
A verdade ficou viúva do “V”
que atestava a veracidade que era você
Raul aos avessos voltou a ser LUAR
A TV anunciou a sua morte aparente
a sua sorte, sua boca servida sua garganta sem voz,
Quem há de rogar por nós?
Quem nos guiará pelas veredas da vida?
Os homens passam/Raul Seixas fica,
A pátria que te pariu o abominou
Naquele 21 de agosto de 1989
Afogada em prantos se comove
Em Raulfadas de dor
Ouro de Tolo/Amigo fiel de Jesus,
Ajude-nos a arrastar nossa cruz
Você é a Areia da Ampulheta
Cachaceiro mal amado/Triste alegre adestrado
Que seu corpo seja cremado
E que suas cinzas alimentem outro homem como Raul
Porque você continuará neste homem
e nos seus seguidores,
Nas tempestades, músicas e dores
Na música que você deixou pra compor no paraíso
No copo de uísque que você não terminou de beber
naquele fatídico 21 de agosto de 1989...
POR QUEM OS SINOS DOBRAM?
Isaac Soares de Souza
Nenhum homem é uma ilha,
Completo em si mesmo;
Cada homem é um pedaço do continente,
Nenhum homem é um elo perdido neste ermo
Ninguém é inteiro, ninguém é metade
Cada homem é um torrão, parte da terra,
chama que arde
A morte de qualquer ser vivo me diminui
Porque sou parte da humanidade,
É como se na verdade
Arrancasse parte de mim
Se um torrão é levado pelo mar
A Europa fica menor
A vida de cada um tem um preço,
a morte é que vem nos cobrar
“Tu és pó e só ao pó tornarás”
Portanto não procure saber
Por quem os sinos dobram:
Se é o homem que o faz badalar,
Você é sua pátria, você é seu país
Assim o sino que dobra para um sermão
Não está chamando apenas o pregador
Mas toda a congregação!
- O miserável, o abastado, o homicida, o bastardo
A cróia, o afeminado, o ditador, o comunista, o terrorista
O detento, o louco e o lazarento,
o beato e o pecador.
CRÓIA MINHA
Isaac Soares de Souza
Cróia, você me deixa aos cacos
Minha estrutura de macho desaba
Entremeio as suas pernas,
Enterrado em sua caverna,
e vem sorrateira a epilepsia,
grunhidos, espasmos,
Seguidos orgasmos,
Eu como você, tu me comes
Viramos farrapos humanos,
Mortos de fome,
Canibais de nós mesmos,
Como dizia o poeta Cazuza,
Livres, tarados, serenos...
Paixão obscena, tão obtusa
Nada temos ou teremos a ocultar
No motel, a céu, no banco do meu jaguar
Nosso amor é um tango, bolero,
Tem o gosto etílico do blues, safado como um xaxado
Na hora do amém é um rock pesado!
RAÇA HUMANA NÃO TEM COR
Isaac Soares de Souza
A raça humana
Tem de aprender
Antes de o sol nascer,
Que não importa a nação
Convicção política, social e religião.
Todos somos irmãos?
Filhos do único Deus.
Não importa se você nasceu
Em Macau, Moçambique,
Papua Nova Guiné,
Em Ruanda, Nova York ou Paris
Quero ver todo o mundo feliz !
Irmanados pela mesma fé
e que a diferença de raça e de cor
É só falta de amor...
Judeu, afegão,
chinês, cambojano, brasileiro, americano,
gregos e troianos,
índios e ciganos.
Somos todos irmãos,
Isto aqui não é o fim,
Vamos dar as mãos, irmãos, cantar e louvar a Elohim
Fazemos parte do grande plano de Deus,
de transformar a terra num novo Éden
Onde reinará a paz
E o homem não odiará jamais
ao seu semelhante
e não aprenderá mais a guerra
forjará de suas armas relhas de arado
e estará, então, concretizado
O que Isaías profetizou:
A Terra será um paraíso de paz e de amor
Porque a raça humana não tem cor...
NATAL
Isaac Soares de Souza
Pai nosso que estais no céu,
tu és o nosso papai Noel
Derrame sua luz
Sobre a terra e a natureza
Nos dê a certeza
de um ano novo feliz
Que o peso da cruz
que cada pessoa carrega
seja aliviado com o ano
que se encerra
de mãos dadas cantemos
glórias ao menino Jesus
Feliz Natal, Ano Novo, cheio de luz
Paz na Terra,
Paz vinda do céu,
Quem tem Jesus
não precisa de Papai Noel
Que o amor e o ódio
que aprisiona qualquer coração
dê lugar à paz e à emoção
de sermos todos irmãos
Ao bater dos sinos
estará presente o Deus-menino
entoaremos hosanas ao céu
nos enche de luz, menino Jesus
Neste Natal e no Ano Novo
serás o nosso Papai Noel...
JANIS JOPLIN BLUES
Isaac Soares de Souza
Pearl...
Pérola,
Etílica, etérea...
Janis Jolpin Blues,
O negro corria em suas artérias,
livre como a ave de rapina,
a espreitar sua presa nos azuis
do céu, que vias etílico...
Branca-negra, não sabias o significado da cor,
raças, religiões, pigmentação de peles,
sociedade, caracteres...
Enxergavas tudo azul, tudo blues
Janis Joplin Pearl,
fundiste o real ao fantástico
e os poetas fingidores e sarcásticos
não falaram de ti
nem dos teus sonhos,
nem dos fantasmas que evocastes
entediada, por fim, abandonastes a vida
como uma criança crescida
abandona um brinquedo,
Janis Joplin Blues...
(O homem não morre quando deixa de viver, mas sim quando deixa de amar.) -CHARLES CHAPLIN-
QUE DELÍCIA QUE VOCÊ É...
Isaac Soares de Souza
Ah! Que delícia que você é!
Minha amante, minha mulher!
A sua sensatez me faz prisioneiro da fé
que eu tenho na eternidade do nosso amor!
Tudo em você me lembra
o quanto sou agraciado pelo Criador!
Faço o meu caminho dentro de você,
um passeio aquoso pelo seu sangue,
acomodado na maciez
de sua carne
que é a minha carne,
Não me incomodo, pois meus anticorpos
sabem distinguir você de um invasor...
Te amo pela vida inteira,
Você é a minha paixão, minha muralha,
Viviane, você invadiu as minhas fronteiras,
Sem intimidações alfandegárias...
Dominou minha vida sem sentido
e para completar o meu brilho,
me deu 3 lindos filhos,
que são a continuação de nossas vidas,
Sou um escravo do teu amor
Sou seu eterno fã,
e no afã dessa paixão desmesurada,
grito sem pudor,
O meu amor pertence a mim e a minha amada,
A minha amada tem o mais lindo nome,
Labareda que me consome
Te amo,
Te amo,
Te amo,
pela longura dos anos,
até que a morte mate nossos planos...
(O CANTADÔ)
Isaac Soares de Souza – (homenagem a três grandes nomes da cultura nordestina: ZÉ RAMALHO, MANOEL MONTEIRO e AURÍLIO SANTOS)
O cantador pede licença
Pra o senhor e pra senhora
Porque minha é a crença
De que quem me ouvir
Terá uma alegria imensa
Pra toda essa gente que chegou agora
A todos que se aglomeram no centro da Praça
Pra me ouvir cantar a beleza e a graça
Da Literatura de Cordel
Os versos que cantarei por hora
Mostram a magnitude da poesia popular
Cultura que deveria ser inserida no ensino escolar
São versos cultos, bem estruturados
Como o favo de mel,
Porque os poetas populares são como abelhas no vergel
Construtores da palavra, pois sua lavra
Exibe a vida como ela é:
Doidivana, tirana, mas boa de viver
Os versos que agora cantarei
Certamente agradarão vósmicês
Recentemente criados
E em livro transformados
Pelo genial cordelista brasileiro
Poeta de estirpe inconteste
Nascido em fevereiro de 1937
Na cidade de Bezerros,
Estado do Pernambuco,
Seu nome é Manoel Monteiro,
Malungo, ícone e matuto
Transforma a palavra em estado bruto
Em poesia perene
Manoel Monteiro sabe o manejo das metáforas
De sua verve emana a essência pura da lira cordeliana
A poesia de Manoel é singela,
Brilha como estrela na constelação,
Mas também é fúria insana
Contra os poderosos de plantão
Que exploram o povo humilde do sertão,
Lírica, também prega o amor
E a igualdade
A liberdade.
Coisas possíveis através da educação...
Contra as intempéries da vida
Manoel Monteiro empunha sua poesia
Poeta-gênio sobrevoa os céus amplos da inspiração
Como repetiu à exaustão
O poeta Jessier
Ao homenagear Aurílio e Zé
Santos e Ramalho, filhos de Brejo do Cruz
Manoel Monteiro deu à luz
Dois grandes artistas brasileiros
Taliquá o feijão e o arroz do rubacão
Zé e Aurílio, filhos do sertão
No mundo instantâneo da fotografia
A visão aguçada de Aurílio porfia
Aurílio tem olhos na alma
Translada para a forma de imagem
Toda e qualquer passagem
Real da vida...
Clarão de relâmpago de um flash
Fotográfico
Aurílio é mesmo um The Flash
Artista deveras, verborrágico
Agora, o poeta Manoel Monteiro
Nome que me dá orgulho de ser brasileiro
Traz à lume mais um folheto de feira
E sua poesia altaneira,
Homenageia dois filhos de Brejo do Cruz
Lugar cercado de luz,
No sertão da Paraíba
Ao sopé da Pedra de Turmalina:
AURÍLIO SANTOS e ZÉ RAMALHO
Zé Ramalho é o coringa do baralho,
Voz tonitruante e bela,
Quando compõe e canta
O mar se levanta,
O trovão o respeita
Como atestou Oliveira de Panelas
A lavra poética de Zé é profética,
Mística, de mestre,
Eloqüência inconteste,
Zé Ramalho é um gênio das metáforas,
Cão Cérbero vigiando as portas do inferno
Em que se transformou este orbe infame
É como as Gárgulas que protegem os vitrais da Catedral de Notre Dame
A arte de Aurílio Santos
Também causa o mesmo espanto
Suas imagens são poesias
Transformadas em imagens
Já a imagem transformada em poesia
É a função à qual Zé se propôs
Aurílio e Zé são mestres das metáforas
AURÍLIO SANTOS-O Olhar Criador
ZÉ RAMALHO-O Ancestral da Palavra
Já cantei o que eu queria cantar,
Muito obrigado meu povo, pela atenção,
Que vósmicês acorram à feira
E comprem de qualquer maneira
A Literatura de Cordel brasileira
Custa muito pouco dinheiro
Principalmente este livreto de Manoel Monteiro
Que conta as trajetórias de dois artistas nordestinos,
Que tiveram o mesmo destino
De nascerem no sertão da Paraíba
Lá em Brejo do Cruz,
Plaga cercada de luz
Aurílio e Zé, Zé Ramalho e Aurílio,
Que nunca haja empecilho
Que apague o brilho
Da arte que os conduz...
(MEU NOME É DOUGLAS)
Isaac Soares de Souza & Douglas “Dodi” Carneiro
Eu cheguei de muito longe
Saí das profundezas do meu érebo
Onde os anjos não ousam pisar
Uma longa jornada
Que somente um homem forte pode enfrentar
Um precipício onde o desterro fez seu habitat
Obstáculos, monstros imaginários na caminhada
Um espólio de tristeza e lutas inglórias
Sempre cheguei atrasado à estação
Antes da minha chegada o trem partia
Rumo a outra direção
Mas nesta vida passageira
Que a morte sorrateira
Sempre ganha o jogo
Com suas cartas marcadas
Eu nunca participei desse engodo
Sempre consigo emergir do lodo
E faço da derrota uma vitória
Quem quer que queira levar a canga do sistema que se foda
Prefiro a solidão do anonimato
Do que ser prostituído pelo sucesso barato
Uso minha coragem, minha voz e a minha guitarra
Estas são as mais mortais das armas
Mesmo que o sol não brilhar lá fora
Dentro de mim existe luz de sobra
Que eu transformo em blues e rock´n´roll
Tudo bem se a mulher que eu amo foi embora
Cantando a dor emerge do meu peito e evapora
Meu nome é DOUGLAS
E nenhum invasor se apossará do meu HANGAR...
*HOMEM: ANIMAL IRRACIONAL*
Isaac Soares de Souza (Pastiche)
Ser ou não ser, eis a questão
O homem não passa de um cão
raivoso, babando sua hidrofobia
pelos guetos nojentos da vida,
lambendo a própria e pútrida ferida
causada pela sua hipocrisia!
Homem - animal irracional
Racional é o animal,
pois o homem é a verdadeira hiena, o chacal
Já nasce condenado
Ser é apenas uma face
do não ser, e não do ser
Certo estava o Cassiano Ricardo,
Diante de coisa tão doída,
Ele sabia que o homem
roubara o adjetivo qualificativo
do Lobisomem...
Desde o instante que nasce
já começa a morrer.
E cada minuto de vida
nunca é mais, é sempre menos
Por isso é loucura, conservarmo-nos serenos
Pois a vida vai
A morte vem
Vida e morte em vão
Vão e vem
As coisas vão e vem em vão
Essa é a grande autenticidade
da vida bandida e vã
Dizia Oswald de Andrade:
Tudo é não e vão
Só a morte é eterna
justiceira materna
a assassinar a vida vã
O homem não compensou a criação de Deus,
Deus!?
Pois o homem irracional
quis e ousou ser imagem e semelhança de Deus,
Deus!?
Então, a vida se converteu em morte
e selou a macabra sorte
da criação estapafúrdia de Deus...
O homem constituiu-se
na grande vergonha de Deus,
Porque Deus é você, somos nós
Vãos, irracionais, asquerosos e sós,
Perplexo descobri que eu também sou Deus!?
“NÃO É A MORTE O QUE IMPRESSIONA, É O MORRER.”
(Coelho Neto)
( MEU PASTOR )
ISAAC SOARES DE SOUZA
Meu pastor é o senhor
Sendo assim, então, nada me faltará
Ele me faz deitar em pastagens verdejantes
Me conduz a lugares triunfantes
Refrigera a minha alma,
Me enche de paz e calma
Ele é o meu pastor!
Nos trilhos da justiça,
Bem longe da cobiça
O Senhor vai me guiar
Ainda que eu ande
Pelo vale da sombra da morte
Não sinto nenhum medo
Nem me abalo de pavor
O Senhor está comigo
Meu refúgio, meu abrigo
Tua vara e o teu cajado me consolam
E eu sigo tão feliz
O Senhor preparou diante de mim
Uma mesa perante os que me são hostis,
Tua bondade estará no meu encalço todos os dias
E eu vou morar na casa do Senhor
Pela longura dos dias!!!
(A ninguém nunca contarei a história dos que, como eu, foram buscar a glória, e que, como eu, irão morrer também.) - AUGUSTO DOS ANJOS -
“ O trem partiu da Estação da Luz. Mas a massa atônita e atrasada, que teme o vôo rasante da liberdade, continua estática, na plataforma a ver navios.”
( ISAAC SOARES DE SOUZA )
MOECHA
Isaac Soares de Souza
Os beijos de tua boca recendem a mirra,
a maçã mordida...
a brisa
que veio dos campos de açafrão!
a gleba chovida pela chuva de verão...
Esse é o perfume dos seus beijos
desvario, devaneio
Tua boca, delícia minha, néctar meu
Razão única, uníssona, paixão voraz
Luz dos olhos meus, fogo aceso
a incendiar meu coração...
Moecha... Elixir do amor
Agora entendo porque ninguém ousou
Atirar-te a primeira pedra quando o Senhor ordenou
Moecha: "adútera, amante", pronuncia-se "moeja", à castelhana.
SAUDADE
Isaac Soares de Souza
Minha amada, meu amor
O que existe em mim, como senhor e dono absoluto,
é a saudade, saudade que não se apaga
a própria carne de minha carne.
Varando-me a alma e infundindo-me terror...
Da saudade procuro fugir
e ela me domina, me arrasta a caminhos que não quero seguir,
Saudade, amante insaciável
que tanto dano causa ao coração e ao pensamento,
Torpe, visguenta e luminosa ao mesmo tempo,
pois me transporta sempre aos teus braços, minha amante,
Não fosse as visitas noturnas desse monstro imponderável
que me assalta e me possui com uma fome de bacante
tornando insuportável o meu tormento,
Fazendo amargo e pungente o cotidiano de minha solidão
Eu não poderia ter-me de pé,
Nem sonhar contigo, desvario de mulher,
Pois a saudade de ti é como um ópio,
que só faz miragens...
E toda essa dor faz pulsar mais forte o coração
A tua imagem
refletida no espelho de minha alma,
é como gleba chovida pela chuva de verão
Me mantém vivo, esperançoso,
Pois sei que você, Viviane,
é constância de energia em minha vida!
*LAMPIÃO*
Isaac Soares de Souza
Desde que nascemos já estamos condenados à morte,
Como se fossemos bois de corte...
Mundo em colapso,
Povo escravizado, relapso
Anjos caídos trilhando caminhos tortos
Guerras de raças,
Poder e religião:
Deus virou bandeira negra da segregação
Etnias, miscigenação
O homem não passa de um cão
Babando sua hidrofobia
Pelas eras de covardia
Todos somos negros
Todos somos pó...
Destituídos da fé
O mais negro dos negros foi Jessé
Avô do Rei Salomão
Negra era a bela rainha de Sabá,
Que fez desmoronar de tesão
O mais sábio dos filhos de Davi
Negra é toda e qualquer nação
Construída sob o domínio e a escravidão
“LAMPIÃO disse que contra o flagelo
tem de lutar de parabelo na mão...”*
No Nordeste brasileiro
Antônio Conselheiro erigiu Canudos
Um verdadeiro Guevara na guerrilha do sertão
Tudo arrasado, enterrado
Pela poeira da História,
Tão mentirosa quanto os que a registram e escondem suas razões
Liberdade se conquista
Através do desejo de ser livre dos grilhões
Pois, quando o EDNARDO fala PÃO
Ele quer dizer tudo o que alimentar
Vítimas que respeitam seus algozes
Não merecem piedade
Pra se conquistar a liberdade
Aprenda esta verdade:
Nesta caatinga tem de ser mais LAMPIÃO
Reses desgarradas
A caminho do matadouro:
Olhem o “estouro do gado”
(*Citação da música “CANDEEIRO ENCANTADO”, de Lenine/Paulo César Pinheiro, que faz parte do CD “O DIA EM QUE FAREMOS CONTATO” – BMG
*BELLE DE JOUR* - (Que não é a de Valença)
Isaac Soares de Souza
Belle de Jour
Vou fazer um tour
Pelas encostas de tua geografia,
Curar minha esquizofrenia
No oásis de teu corpo,
Anjo torto, meu status quo,
Meu coração é um almirante louco
Que abandonou a profissão de navegar
O mar é verde e teimam em dizer que é azul
Belle de Jour
Teu corpo é como o sertão que produz mormaço,
Assim como o mar em que navego entre sargaços
Quero viver os meus dias ancorado em seu cais,
Mesmo em terra seca em ânsia e aflição
Onde o oceano não chega ao sertão
Em São Bento do Uma, Olinda, Nova Iorque ou Paris
Belle de jour, só em teu mar sou feliz
Belle de Jour (que não é a de Valença)
Minha esperança, minha crença
Meu estado de suprema alegria de viver,
Tudo em paz, tudo jazz, tudo blues
Belle de Jour, Bela da tarde
Sem causar alarde,
Se apodere de mim
Nesta bela tarde desse domingo azul
Belle de jour
Me monte assim
Como se eu fosse o seu alazão
Resfolegando de paixão
Como a sanfona resfolega no baião...
(senhor dos exércitos)
ISAAC SOARES DE SOUZA
A ti, Senhor, elevo a minha alma
Me ensina as tuas veredas
O Senhor é a minha luz
e a minha salvação,
Guarda a minha alma,
Pois as ânsias do meu coração
Se tem multiplicado...
Olha para a minha aflição
E para a minha dor,
Perdoa os meus pecados
Bom e reto é o SENHOR
Tem misericórdia de mim,
Ó Senhor dos Exércitos
O Alfa e o Ômega, princípio e fim
És o sim de tudo
Minha fortaleza, meu escudo,
Me dê vitória e rumo certo
Oh! Rei da Glória, meu refúgio e proteção
O teu exército o temerá
Enquanto o sol durar
De geração em geração
Eis que os justos o temerão
Porque tu és o Deus de Abraão, Isaque e de Jacó;
O mesmo Deus que fez troar as trombetas
de Josué em Jericó,
Ó DEUS, não te alongues de mim
Não quero o ardor de tua ira
Seja o meu nome inscrito no Livro da Vida
Porque tu és o mesmo Deus
Que conduziu Moisés
À Terra Prometida!!!
(VALE A PENA)
ISAAC SOARES DE SOUZA
A vida sempre vale a pena
Embora a liberdade seja miúda, pequena
Os pulsos roxos de algemas
E o estômago vazio,
Sustentado por sobras apenas!
A vida sempre vale a pena
Mesmo que para vivê-la
Tenhamos de arrancar as melenas,
Uma guerra sangrenta,
Ferida pustulenta,
Mas queremos viver apenas!
Esfomeados,
Doentes, mal pagos,
Escravizados, iletrados
Até que chegue o dia de sermos enterrados
No mesmo pedaço de terra que nos foi negado
A vida sempre vale a pena,
Embora seja um calvário
Ela tem tempo, espaço e horário
Morto o homem, cumprida a sentença
Só então entenderemos
Porque é que a vida vale a pena!!!
“ A morte é a única forma infalível de justiça, aos enfunados de orgulho, reis e
príncipes, santos e pecadores, faustos e miseráveis, ela outorga o seu quinhão: O direito de regresso ao estado primordial de nascença – És pó e ao pó tornarás. “
(ISAAC SOARES DE SOUZA)
(SENHORA INTEMPORAL)
ISAAC SOARES DE SOUZA
À FÁTIMA – 1990
14 de setembro de 1983, entre 20h30 e 21 horas,
de uma quarta-feira coberta de espanto,
era véspera de dia santo.
Automóveis, pessoas anátemas
Se aglomeravam no meio – fio.
Ao longe, sirenes anunciavam meus medos e calafrios.
Estendida no asfalto manchado de sangue:
Jazia Fátima, a rainha louca do mais baixo mangue
Fátima, Fátima, Fátima...
A praça estourava com fogos de artifícios
E caía uma chuva fina,
Que fazia tiritar a alma,
Enquanto ela era enterrada para sempre...
Chorarei sobre o convés
Enquanto o meu barco não aderna
Pois a morte traiçoeira vem como procela
Saprófaga, vomitando o poderio do Seol
Escurecendo e eclipsando o Sol
Que não mais brilhará sobre vós
A morte cumpriu seu ofício,
E agora, quedo-me solitário em minha alcova
Mas sei que o Senhor vestiu-a de bela roupa das noivas
E como versejava o poeta:
Quem sonha o eterno gera eternidade,
Deuses sintamo-nos portanto
Fátima eterna,
O tempo há de deixar a marca dos teus dedos
Impressa na minha insanidade.
Morrer é fácil
Pois para a morte vivemos
O difícil é continuar eterno
Certos de que morreremos...
Moça bonita, senhora intemporal
Como dizer tua lembrança?
Se vives a bailar em minhas adjacências
Mais viva do que quando viva,
Com seus sinais de poderio e permanência?
“A certeza de que o mal não prevalece é a morte de quem o criou: O Homem.” (ISAAC SOARES DE SOUZA)
ÊXITO
Isaac Soares de Souza/Raul Seixas
Eu sou um sujeito triste,
Que desiste facilmente diante dos obstáculos vis,
Deitado à sombra do meu teto,
Não vivo, vegeto.
O vegetal é mais feliz
Vivo sem êxito na mais completa solidão
Este é o meu habitat, meu submundo,
Estou triste com os homens e o mundo
Estou triste com Deus,
Eu não sei quem sou eu,
Viralata vagabundo,
Caminhando a esmo,
À procura das migalhas e restos
Nas vielas e guetos
Não sou judeu, vermelho ou preto
Porque o ser humano não tem cor
Mas o preconceito não tem nacionalidade e também não tem cor
O preconceito simplesmente é humano
Viver sob esse estado de demência é um horror
Estou triste comigo mesmo
Eu, realmente, não sei nada,
Qual é a grande jogada?
Eu sei que existem limites
Que eu jamais conseguirei superar
Não consigo atingir o ápice
Quanta mediocridade,
Deus é o que me falta para compreender a verdade,
O caminho da felicidade?
É vedado a mim provar tão doce cálice
Aos 45 anos tudo mudou para mim:
Não faço nada com vontade,
Tenho vontade de tocar rock nem de escrever,
Só quero dormir, hibernar...
Só sonhando sou mais feliz!
Pois, é chafurdado na solidão
Que trabalho contra os caretas do mundo,
Contra o torpor, a imprecação,
Contra a arapuca que nos foi armada,
Contra a religião, o Monstro Sist e suas ciladas,
Durante séculos vivemos conformados,
Escravizados, presos nela
Numa grande cela sem cancela,
E não conseguimos fugir dela
Por medo, ignorância ou covardia?
Comendo noite e dia o mesmo alpiste que nos dão...
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(Poema baseado em textos do próprio Raul Seixas)
(O POETA) - Para Raul Seixas/1995
Isaac Soares de Souza
Não perturbes o poeta
Em seu alçapão de cismas proféticas
Deixes tranqüilo o poeta,
Em meio aos destroços
Dos calabouços e poços,
Que circundam a terra escaldada
Por suas mãos despedaçadas
De lavrar a poesia!
Sementeiras férteis
Alfabeto dos inertes:
Poemas, prosa e sonetos
Ruas, campos, cidades e guetos,
Todas as coisas ainda informes,
São geradas nas folha de papel em branco que o poeta rabisca
E de traços rabiscados vem à luz a vida,
O sonho e o pesadelo
e o impossível se torna real
Enquanto os homens comem e bebem
E matam e se matam pelo dinheiro
Enquanto as águias dormem nos penedos
O poeta acorda mais cedo
Inadiável compromisso de escrever a vida!
Respeita o poeta
No momento de angústia procurado, imerso
E as dores que ele abriga,
Na cor de sangue dos seus versos!!!
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“Os navios estão a salvo nos portos, mas não foi para ficarem ancorados que eles foram criados”
(Autor Desconhecido)
*CAZUZA* (ILUSTRAÇÃO: Isaac Soares de Souza/1996)
“O MEU CORAÇÃO É UM CORAÇÃO PARTIDO. OS MEUS HERÓIS MORRERAM DE OVERDOSE E OS MEUS INIMIGOS ESTÃO NO PODER. EU SOU UM CARA CANSADO DE CORRER NA DIREÇÃO CONTRÁRIA, SEM PÓDIO DE CHEGADA. DIAS SIM E DIAS NÃO, EU VOU SOBREVIVENDO SEM UM ARRANHÃO DA CARIDADE DE QUEM ME DETESTA. AGORA EU VOU CANTAR PROS MISERÁVEIS, QUE VAGAM PELO MUNDO DERROTADOS. DESSAS SEMENTES MAL PLANTADAS, QUE JÁ NASCEM COM CARA DE ABORTADAS. SENHOR, PIEDADE PRA ESSA GENTE CARETA E COVARDE. LHES DÊ GRANDEZA E UM POUCO DE CORAGEM. IDEOLOGIA, EU QUERO UMA PRA VIVER!”
*CAJU* (homenagem a Cazuza)
Isaac Soares de Souza & Douglas “Dodi” Carneiro - (HANGAR XVIII)
(Poema musicado e gravado em CD pela banda Hangar XVIII)
Caju,
I hadn´t anyone
´til you.
O tempo não pára
Para o rebelde de plantão
E o poeta dispara
A metralhadora cheia de mágoa,
Alvejando qualquer coração,
À deriva, na contramão!
Um menino poeta
Chamado Agenor
Cazuza Profeta,
Codinome Beija-Flor!!!
Caju,
I hadn´t anyone
´til you.
Sua voz rouca e blue
No tom exato de quem conhecia
A dor e a alegria
Cantou verdades de seu tempo,
Sem lenço e sem documento
Realidade e poesia
Esta era a ideologia
Que ele queria para viver!!!
*RAUL SEIXAS NÃO MORREU*
Isaac Soares de Souza/1995
Ninguém se iluda:
A Morte vem,
Antes do nascer do Sol
À hora que ninguém espera!
De avião, navio, automóvel, Trem,
Trem 103, Trem das 7,
É o próprio arrebol
Com suas alpercatas
Cor de nuvem negra
Entoando mil endechas!
Amém, amém...
No balaço de uma arma que dispara
No fio cortante de uma navalha
Numa corda que se enlaça no pescoço
Para dar parada obrigatória à vida
No câncer já espalhado,
Na AIDS que consome vidas
Enfim, a morte está presente em todas as coisas vivas
Como dizia Raul Seixas:
Há homens que já nascem póstumos!
Pague pra ver que eu aposto
Falava dele próprio!
A Morte surda caminha ao lado
De todos nós
E ninguém sabe em que esquina
Ela vai nos beijar:
O coração que se recusa
A bater no próximo minuto,
Deus que não me quer mais sobre a face da Terra
Ou o Diabo que no sexto círculo de seu érebo me espera
Torturado, escravizado,
Excomungado e banido
Fuzilado, esfaqueado,
Enforcado covardemente
Como enforcaram a Saddam
Crucificado como Cristo
Qualquer tipo de morte está previsto
Para quem vive neste inferno/paraíso
Raul Seixas nasceu há dez mil anos atrás
Portanto, é eterno e não morrerá jamais!
Deixem-me escrever o que desejo
O que posso fazer, o que almejo
Quebrando vidraças do velho Ricardo,
Nesta vizinhança sou filho bastardo
Opróbrio dos homens
Refém das dores que me consomem
Igreja, Estado e Sociedade
Viam na figura contestadora de Raul
O demônio e o cu
Do mundo,
Cachaceiro mal amado, vagabundo
Areia da ampulheta,
O falo que desvirginava qualquer boceta
Boca escancarada cheia de dentes
Escarrando verdades na cara da gente
Mas, Raul sabia por quem os sinos dobravam
Porque os burgueses e os poderosos
Vomitam suas insanidades sobre
As cabeças sem capacete protetor
Agora, destituído do corpo carnal
Raul caminha anônimo
Pelo insondável flanco
Da alma que se levanta sobre os pés
Invisíveis do coração descontínuo
De saudade!
Como soldado que voltasse
De uma batalha magnânima,
Não como herói que matou mais inimigos
Mas como um desertor
Que abandonou sorrateiramente o front,
Porque herói de guerra é o soldado que deserta
Nas margens da carne
Que arqueja e que arde
E parece um gemido
E percorre nossos ossos, nossos corpos deitados
Como animais extasiados
Pelo trabalho escravo
Manifestando em nós
A Sociedade Alternativa,
Outorgando-nos
A Cruz de Ansata,
A Chave da Vida!!!
A Morte não mata quem já nasceu imortal!
Metamorfose Ambulante,
Maluco Beleza, livre de corrente nas patas!
Já que somos o protótipo dos animais...
Quixote de Cervantes,
Mágico e forte,
Raul Seixas rompeu os grilhões
Disfarçado de louco
Vomitastes à mesa da realeza
Do Monstro Sist, da Sociedade e da Igreja,
Essa mesma Igreja que queimou multidões nas fogueiras
E conduz suas reses à beira do precipício da ignorância
E da servidão,
Que transformou Deus na bandeira negra da segregação
Raul, crescestes e conduzistes
Um povo chamado raulseixista
E atravessastes a nado um mar Vermelho imaginário
Como Moisés no Livro sagrado,
Mas um Mar vermelho de sangue
E tirastes água da rocha,
Guerreiro, tua espada
Era a guitarra na mão
Você não morreu
Voltastes da batalha entre heróis feridos
E nós, os incompreendidos
Raulseixistas
Somos testemunhas sacrílegas
E primeiras como Madalena
Da tua ressurreição!!!
*TER PODER É TER O PODER DE QUÊ? SOBRE O QUÊ? TER O CONTROLE DE QUÊ? DE UMA IDÉIA, SEUS FILHOS DA PUTA?* - (Raul Seixas)
*PARA SÉRGIO*
Isaac Soares de Souza
Sérgio fabricava tamancos
Pra chutar a bunda suja do sistema
Sampaio fazia versos com um toque de gênio
Anjo torto de Cachoeiro do Itapemirim
No Rio de Janeiro
Gritou bem alto para o Brasil inteiro:
“EU QUERO É BOTAR MEU BLOCO NA RUA”
da amargura asfaltada pela ditadura
dura de roer...
Gingar, botar pra ferver!
Sampaio tinha serpentes no balaio pra ar e vender
Sérgio era um atalaia da MPB
Internado no hospício da vida,
Não enlouqueceu como Nietzsche
Porque vomitava suas angústias na poesia
Seus versos eram sabres abrindo feridas
Ele era um poeta triste,
Mas sempre com o dedo em riste
Sérgio vivia à deriva
Ele não era besta
Entre leros, leros & boleros
O velho poeta bandido
Cantava o seu pobre blues
Até samba com feeling de rock,
Pois Sampaio era pop
Apenas um cantor popular
Não era o Diabo, nem era “maldito”
Mas sabia dar um “toque”
Seu pai era Raul, Cala a Boca Zebedeu
Seu amigo era Raul, que entre os loucos se perdeu
Baiano de Quenguenhém
Enquanto as cinzas do Velho Aeon
Vinham carregadas no vagão do trem
Sérgio e Raul faziam da vida um eterno blues
Cantor de rádio, locutor,
Gênio esboçado, filho da dor
Sátiro do cotidiano
Que o alcoolismo tombou!!!
*A LEI DE TELEMA*
Isaac Soares de Souza
Fé em você, força e raça
Raul Seixas falou:
Berimbau tem cabaça,
É um som que é “deep in my soul”
Não existe Deus senão o homem
Vá e grite ao mundo que você está certo
O poder do homem é imenso
Logo penso: Posso fazer o que quiser
Sem nunca desrespeitar o ser humano como ele é
O amor é a lei. Amor sob vontade.
Eis que os escravos servirão!
A Lei de Telema: Reinado de paz,
Paz interna, paz individual
O homem não é o chacal
Que a História afirma ser
Quebrar os elos da escravidão milenar,
Mudar esse paradigma de que
Deus vê tudo que você faz
A religião é a grande peste,
Nós somos super-homens
Como na visão de Nietzsche
O homem é um ser divino
Que perdura além da morte física,
Os homens passam, as musicam ficam
E atestam e indicam:
“A morte não mata quem já nasceu imortal!”
Apenas faça e arrume as malas
Somente duas conduções
Poderão levá-lo para a Cidade das Estrelas
Esteja pronto para o Novo Aeon,
Coragem, eu sei que você pode mais
Embarque na Estação Sociedade Alternativa,
Vem, amém!
Trem das 7, Trem 103
Força e raça, fé em você,
Tente outra vez,
Pois é de batalhas que se vive a vida
Viva, viva, viva a Sociedade Alternativa!!!
*STREPTOCOCUS VIRIDANS* (Blues)
ISAAC SOARES DE SOUZA
Paixão insana
Que corre em minhas veias
Como um vírus letal,
Infecção bacteriana,
Streptococus Viridans
No afã dos meus delírios
O mel de tua boca
É o mais eficiente antídoto
Contra essa mortal letargia
Que tomou conta do meu corpo
Que reclama o cheiro do seu
Dentro de você, sou tão forte quanto Deus
Posso derramar-me em líquido
E dar continuidade a magnificência da vida
Esquizofrênica paixão
Por um só beijo teu, mando a moral para o beleléu
Faço como fez Jacó para desposar Raquel
Sirvo a qualquer Labão
Um século de escravidão
Mais que o vinho, inebriante
Sonho remoto, anjo torto, subida do érebo de Dante
Cheia de prenúncios
No meu âmago se alojou
Moça da noite, “moecha”, açoite
Sentença dos dias mal vividos
Meu status quo!
Deus se esconde bem
No teu olhar de nefilim
Eu que tinha os olhos dos suicidas
Nos teus seios encontrei a fonte da vida
Os teus dois peitos são como dois filhos gêmeos da gazela
Que se apascentam entre os lírios
Rosa de Sarom, agora sei por que vivo
Você fez de mim um maníaco
O sol resplandeceu sobre mim!
Em Cantares de Salomão
O filho de Davi descreveu sua formosura
E tudo perde o senso
Teu corpo moreno é azul
Núbia curva, febre, riso e gemido
A pele, o peito, apenso
Quero música,
Música profana, o blues
A música do olhar da mulher!
Lasciva, molhada, cheirando à jasmim
Nos quantos orgasmos eu quiser
Que você tenha
Prenha
De mim...
“Não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual> Somos seres espirituais tendo uma experiência humana.”
(Pierre Teilhard de Chardin)
*ANGÚSTIA* - (À memória de Graciliano Ramos)
Isaac Soares de Souza
A construção da angústia
Como pústula
A impregnar a alma
Se manifesta em mim,
Nesta enxovia, preso entre paredes e grades
Como metástase
A me roer os ossos
E a esperança na justiça dos homens
Como escravo nos porões dos Navios Negreiros
Como prisioneiro acorrentado nas Galés,
Como um judeu sem desígnio nos Campos de Concentração de Auschwitz
Sem direitos, sem rumo
Desoladoramente triste
Meu nome não é mais ELIEZER
Aqui sou apenas mais um número
Não há um só justo sobre a face da Terra,
Triste verdade esse ditado encerra
A cela infestada de baratas e ratos
No espaço contrito que comporta monturos humanos
A mijarem a minha vida,
Meus livros, meus sonhos, meus poemas
Aqui a vida é deveras, pequena
Cheiro insuportável
De merda e urina
Exalado pela podre latrina
Aqui parece que os condenados
Em seu desespero pela liberdade
Defecam além de dejetos alimentares,
Angústia e dor
Pelo ânus...
Descobri que a angústia e a dor fedem
Depois do galopar dos anos
Mas, aqui os animais peçonhentos
E insetos fedorentos
E o cheiro nauseabundo
Tornam-se nossos aliados
E partilham nossos segredos e medos
Mais dignos e humanos do que os humanos fardados
Que nos mantém como a animais enjaulados
É como se todos estivéssemos enterrados vivos
E despertos do estado de catalepsia
Mergulhássemos na angustia de cada dia
A vida engolida pela antropofagia da monotonia
Impropérios, arrependimentos,
Choros e lamentos,
Risos e homossexualidade,
Tramas, tortura, traições
Morte, morte, morte
Funesta sorte
Esgares de vingança
Aqui o mal fixou moradia
O Diabo instalou aqui uma filial do érebo
E investe sua fúria contra párocos e pastores
Ofertadores do perdão inexistente
Aos degenerados arrependidos
E a falsa promessa de perdão e do paraíso
Às vezes transforma mesmo água em vinho
Aqui nenhum santo faz milagre
Aliás, na prisão existem mais santos
Que apregoados homens santos
Negociadores do Evangelho
Aqui o Cristo crucificado
Não atende súplicas e nem perdoa pecados
Porque Ele sabe quem foi Pilatos
E quem concede o perdão é a pena do magistrado
Quase sempre um injusto togado
Nem a Virgem Maria atende nenhuma prece
Aqui o Diabo é mandatário maior
E nenhuma mãe pode amamentar seu rebento
Neste fosso de loucos e lazarentos
Até o néctar gozoso de uma vagina
É fel em qualquer língua
Talvez, por isso, Santa Teresa de Ávila
Ávida em seus desejos carnais
Tornou-se a musa dos desejos sensuais
De alguns dentre os prisioneiros pobres mortais
Pois, se Santa Teresa,
Doutora da Igreja
Cedia aos ímpetos sexuais de tarados celibatários
Por que não servir à uma casta malfazeja
De pecadores sem moral e condenados?
Facinorosos que se odeiam entre si
Mas, forçosamente se respeitam
Por conta dos códigos invioláveis do crime
Pedófilos e estupradores, aqui nenhum perdão os redime
E a morte iminente é a vingança que os elimine
Erigidos sob o signo da morte
Qualquer raio de sol que invade a cela
É um raio de esperança de uma longa espera
Onde a liberdade é só quimera
E demora uma era a chegar
E galgar muralhas e sentinelas
A angústia que de todos se apodera
Transforma meses de calabouço
Em prisão perpétua
Pois não há esperança que sobrepuje a angústia da espera
Aqui a esperança é a última que morre
Somente a coragem permanece incólume
Pois, a covardia neste antro humano
Conduz qualquer homem ao postigo e à morte
O sistema penitenciário
É uma abissal indústria do crime
O mais degradante e perverso castigo humano
Mesmo porque o ser humano é maior que seu próprio erro
E nem mesmo o mais cruel dos homens merece o desterro
Antes a pena capital do que o exílio forçado de si mesmo...
*SUA SANTIDADE MORREU*
ISAAC SOARES DE SOUZA - (04/04/2005)
Morreu o Papa
O Papa morreu
Antes ele do que eu
Morreu o Papa
Assim como morrerá ALI AGCA
Como morrem os sátrapas
Como morreram os santos
Que nunca foram santos
E outros tantos e quantos
Que ainda morrerão
Morreu Sua Santidade
Pereceu o santo Padre
Com que intentos
Cuidará o camerlengo
Do insano conclave?
Assim é a frágil vida
Ao pé da qual tudo se finda
Morreu o contemporâneo de Pedro
Que também morreu esquartejado e quedo
Assim como morreu crucificado numa Cruz
O Cristo que nos mostrou a luz!
Mas eu ainda permaneço aqui
Com a alma podrida
Morreu Wojtyla
Mas eu ainda não morri
A vida é um ledo e Ivo engano
O tempo que a toda forma de vida devora, soberano,
Se abateu saprófago sobre o Vaticano
A Morte: É este o nosso lote, dote e reino
A única certeza que desde o berço no dorso carrego
“Num fiapo de tempo, bem menor do que aquele
em que um estilhaço de estrela
resvala no céu escuro e cego, toda forma de vida conhecerá a morte”
os sinos da Basílica
dobram consternados pelo triste fim de Wojtyla
chega ao término o pontificado de João Paulo!
Comovidos choram fiéis e infiéis
Em toda a extensão do mundo
O Papa peregrino da Paz, jaz
Sobre a mais fria laje
Até que um sucessor seja eleito
Em secreto e desconfiável pleito
Por um partidário conclave...
O Papa morreu
Num fiapo de tempo, morrerei eu
A genealogia cósmica da morte
É o orgasmo do desejo de Deus!
A morte matou o Papa,
O homem Karol Wojtyla morreu
Assim como morre o índio em sua taba,
O mendigo maltrapilho na calçada,
Crianças esfomeadas
E a fé no peito das almas escravizada,
Negros forros e proscritos
Tudo na vida perece
Só a morte permanece
Pusilânime e traiçoeira
Pois este é o nosso único e maldito
E fantasmagórico quinhão
Assim como morreram milhões de judeus
Nos dantescos Campos de Concentração
Sob os olhos justiceiros de Deus
Bruxos e sibilas queimados nas fogueiras
E a todo instante morre gente por falta de pão,
Morreu o Papa no berço sórdido da Inquisição!!!
“ O cão é o melhor amigo do homem: Dois cachorros se entendem. “
(ISAAC SOARES DE SOUZA)
“ Como um esquife amaldiçoado é o homem que não tem amigos. “
{ISAAC SOARES DE SOUZA}
“ A pessoa que nutre dentro de si, desejos de vingança cabal contra o próximo, além de homicida é um suicida em potencial. “ (ISAAC SOARES DE SOUZA)
“ O perdão só é impossível para aqueles que não conhecem a humildade e vivem enfunados de orgulho. “ (ISAAC SOARES DE SOUZA)
“ A fronteira da paz está justamente no marco da ignorância do domínio de uns sobre os outros. “ (ISAAC SOARES DE SOUZA)
“ A maior dádiva do Criador onipotente, é justamente não atender algumas de nossas orações. “ (ISAAC SOARES DE SOUZA)
“ Esforce-se para buscar o poder do conhecimento. Não aja como os hipócritas que buscam o conhecimento do poder. “ (ISAAC SOARES DE SOUZA)
“ Tolo é aquele que crê que a morte é o fim de tudo. Este já nasceu morto e só aguarda a hora do próprio funeral. “ (ISAAC SOARES DE SOUZA)
“ Nas mais cruéis e sanguinárias ditaduras, na carnificina da Inquisição, nas celas frias das prisões, na catastrófica censura; os livros fizeram mais pela liberdade do que a própria coragem humana. “ (ISAAC SOARES DE SOUZA)
“Com a mesma objetividade de um haikai de Baschô: O suicida não morreu, simplesmente se matou!”
(Isaac Soares de Souza)
“ Se julgas possuir o monopólio da verdade, não passas de um tolo ludibriado pelas suas próprias mentiras. “ (ISAAC SOARES DE SOUZA)
“ Os poetas são sonhadores e fazedores de sonhos e todos os seus sonhos se transformam em realidade à partir do instante em que permitem que as pessoas sejam levadas a sonhar os mesmos sonhos. “ (ISAAC SOARES DE SOUZA)
“ A morte não mata quem já nasceu imortal. “ (ISAAC SOARES DE SOUZA)
“ Mesmo em terra de cego, quem tem um olho continua enxergando pela metade. “
(ISAAC SOARES DE SOUZA)
“ O AMOR NÃO CONHECE DOR, POIS É A PRÓPRIA DOR. “
(ISAAC SOARES DE SOUZA)
(Mundo) À DRUMMOND
Isaac Soares de Souza
O mundo entrou em coma,
Canceroso... Leprosário fedentino,
Cheira à fecaloma...
Seus habitantes?
Séqüito de dementes,
Procurando com unhas e dentes,
Uma forma de transpor a muralha desse manicômio
Os que gerenciam o universo?
Não merecem citações em meus versos,
Turba de seres maquiavélicos,
Invenções patéticas e imbecis do demônio...
O mundo... Eta mundo...
O mundo não merece o mundo,
Nada de novo, só tem calhordas no front...
E agora Drummond???
*Réquiem Profano*
Isaac Soares de Souza
Era eu o exasperado, maníaco, tarado,
O cão de cheiro virulento, que tinha na pele a gosma das lesmas
Meu corpo imundo, nojento...
Explodia de repente num espasmo profano,
Expelindo num só jato meus milhões de “espermas”
Inundando suas coxas, peitos e precipício
Era você a minha doença, a minha fraqueza
Era você a atrofia dos meus testículos,
Profusas drosófilas infestando meu corpo imundo
Era você a minha lâmina, a minha sina
Era eu, era você, éramos nós, no fundo,
Dois maníacos vagabundos,
Como porcos num chiqueiro
Pois o ato sexual nada mais é do que um mergulho
Ao mais sujo dos rios
Lama de perdição,
Pecado que gera vida
Nada temo ao seu lado e ao meu lado você nada teme
Em mim você só vê testículos e pênis
Em você só vejo sexo e vagina,
Buceta de felina,
Fonte de água viva
Onde embebedo minha língua
A baba derramada do demo
Cheiro acre de urina,
Minha cróia felina!
Nós, pestilentos, sacrílegos e obscenos
Embriagados, copulados,
Como cães vira-latas atados e escorraçados,
Trêmulos de espasmos
Era eu o cavaleiro agarrado às suas crinas,
Dedos crispados em suas ancas eqüinas
Olor de flor, era eu enterrado em sua vagina
Éramos nós, era você já na casa do milésimo orgasmo!!!
Até Raul Seixas cantou seus dotes infernais,
Ninfeta demoníaca,
Corrina,
Quando você tira as calcinhas
E dá um abrigo para o meu pau,
Eu estremeço e sei que não sou um homem normal!!!
VÉIO JOÃO
(EU VI A FACE DA MORTE)
ISAAC SOARES DE SOUZA/EZRA POUND
PARA MEU PAI (VÉIO JOÃO)*
Eu vi a face da morte
A morte era silenciosa e provocava ais,
Era a noite feita para os arrependimentos
A morte não me impingiu nenhum medo,
Nem crispar de dedos.
Alagava o coração e os olhos
dos que viam nela o segredo da vida.
Em gestos estranhos adentrou à casa
e se alojou no corpo de meu velho pai
Não se via violência em seus movimentos
Nem dor havia em seu rosto
a morte era quase bondade
ao redimir um herói
na ceifa em que levou papai...
Eis-me inteiro em tristeza,
conspurcado e vazio...
Pai, divide comigo esta paz
deixa-me pousar a cabeça
em teu peito inerte,
mas na plenitude da graça dos que viram a luz.
Meu pai foi um homem de Deus
João Apocalíptico, na ilha de Patmos,
de antemão, previa os fatos,
varava as madrugadas orando pela salvação dos seus.
O meu pai tinha enorme indignações
Não se conformava com os conformados,
os acovardados, os déspotas, os corruptos,
os medíocres, e nem com os vendidos deste mundo.
Não se conformava com a miséria, a dominação, o ateísmo,
a idolatria, a falta de fé do homem, e desvalimento.
Quando não o entendiam, abria-se em seu peito enorme ferida,
Corria as mãos calejadas pelo trabalho massacrante pelo cabelo grisalho
e ardia como um mancebo de dezoito anos na sua ira.
Meu pai tinha um furor de justo,
Era um Moisés do Século XXI,
Com o seu cajado, separou em dois, o mar de aflição da vida,
Para que nós passássemos, um por um,
de encontro ao seu grande Deus.
De acordo com esse Deus que é amor e não mente,
“Os próprios justos possuirão a terra
e residirão sobre ela para todo o sempre.”
“O próprio Deus estará com eles.
E enxugará dos seus olhos toda a lágrima,
e não haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem dor,
Nem clamor. As coisas anteriores já passaram.”
Eu vi a face da morte
Era a noite de sexta-feira
feita para a grande morte da continuação
De um herói chamado João,
Porque você, pai, continuará em mim
e nos meus filhos e nos filhos de meus filhos,
de geração em geração...
Até a consumação dos séculos, o Armagedom...
* Para meu pai, João Soares de Souza, falecido aos 06 de junho de 1997. De parada cardíaca. Aos 72 anos de idade, papai não resistiu a uma delicada cirurgia no coração, e a morte sorrateira o carregou pra junto dela, feito um pacote no seu manto de cetim, encomendado por Deus. Rasgando o meu peito e abrindo uma gigantesca ferida que remédio nenhum jamais conseguirá cicatrizar.
SANTA TERESINHA DO MENINO JESUS E DA SANTA FACE
ISAAC SOARES DE SOUZA – 2005
Santa Teresinha do Menino Jesus e da Santa Face
Carmelita, “Doutora da Igreja”, bendita
Sejas entre todos os santos da Santa Igreja
Rogo vossa intercessão,
Pastora da Evangelização,
Pois, como tu, quero sofrer por amor
Ao Excelso Salvador!
Santa Teresinha do Menino Jesus e da Santa Face
Desde o momento do seu trespasse
O céu respira pólens,
Santa das Rosas, prometeste antes de morrer:
“Do céu farei cair sobre a Terra uma chuva de Rosas”
No istmo de todas as coisas
Brilhas como aurora,
Santa de Liusieux!
Que desejou mil vezes morrer
Para ajudar a salvar uma alma
Do alto do empíreo,
Me ajuda a crescer em sabedoria e graça
E que as dores que eu tenho sofrido
Durante mil solstícios,
Não se configurem como martírio
Mas o indício do florescer do amor
Jovem e Santa das Rosas,
Rogo vossa misericórdia
Para que a humanidade no seu afã
Também ame e deseje a Cruz
Pois o val