Coração perdido

Essa cidade que eu desenho,

não existe mais.

Nem eu existo mais,

insensato desse jeito.

Porque a fome engoliu as casas,

as moças desapareceram da rua,

e os homens já não sonham mais.

Até o poema é antigo.

O que restou foram frases pequenas,

do tamanho da minha pressa.

O por do sol tem preguiça,

o mar baniu seus espectros,

e as ruas se perderam no concreto.

Para quê mais poema,

se somos todos surdos?

Eu persisto como a dor de dente,

e permaneço como o apelido de infância.