Pai velho
Pai Velho chegou.
Caminhou de longe até aqui perto de mim.
Pai velho falou de manhã, de tarde e de noite.
A espera é para quem não se desespera.
Quem não murmurou.
Quem não cegou.
Eu vi o sol namorando a lua encima de um pé de goiabeira.
Aprendi a rezar ainda moço.
Falo com a língua pregada ao céu da boca.
Não largo meu cachimbo de madeira.
A noite caminha como moça prendada.
Sabe cozinhar as horas, cumprimenta as senhoras da calçada;
As ricas de mesas fartas, e os pobres de barrigas ocas, varadas.
Pai Velho chegou, todos o esperam no barracão da Lapa.
Ele trouxe um conselho de seu Jorge.
Quem brinca com cobra é picado.
Andar no formigueiro é coisa de gente tola.
O precisado só demonstra porque tem pressa.
Acendi uma vela lá no canto do terreiro.
Em silêncio o pedi um pedaço do mundo.
Por que não?
Todos têm o seu, só o meu que não apareceu!
Uma boa alma é Pai Joaquim de Aruanda.
Deu-me uma luz no fim da estrada.
Encontrei a botija no mato enterrada
Pai Velho me ajudou a segurar a banda.
Pai Velho se foi como passarinho.
Esqueci-me de perguntar para onde...