Tola criatura do tempo

A lamparina arde por toda a noite.

Esta dança perante sua chama.

A noite é menina que cresce apressada até caducar de manhã cedo.

Os homens fazem seus objetos.

A mulher morre pelo homem que ama.

De dia, de manhã, de noite.

Os homens fazem o seu tempo.

Contudo as águas das horas lavam a pedra do rio.

E o que é já foi com as suas correntes.

No raiar da aurora soldados marcham eretos.

São como escravos sem visíveis açoites.

São como religiosos ou crentes.

São como almas com calafrio.

Temem a sorte e morrem por ela.

Engasgam-se lambendo a vazia panela.

É dia e fui com ele.

Caminhei veredas mil.

Vi, ouvi, amei, chorei.

Encurvei-me perante a razão desenhada nos prédios.

Não mais perguntei até o outro dia.

Calei-me.

Será que amanhã estarei aqui?

É certo que vivo.

Mas garanto apenas o agora.

Precariamente, é claro!

Será que irei embora?

Pergunta tola a uma demasiadamente tola criatura do tempo.

Não sei...

Roosevelt leite
Enviado por Roosevelt leite em 05/01/2011
Reeditado em 28/04/2012
Código do texto: T2711449
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