Tola criatura do tempo
A lamparina arde por toda a noite.
Esta dança perante sua chama.
A noite é menina que cresce apressada até caducar de manhã cedo.
Os homens fazem seus objetos.
A mulher morre pelo homem que ama.
De dia, de manhã, de noite.
Os homens fazem o seu tempo.
Contudo as águas das horas lavam a pedra do rio.
E o que é já foi com as suas correntes.
No raiar da aurora soldados marcham eretos.
São como escravos sem visíveis açoites.
São como religiosos ou crentes.
São como almas com calafrio.
Temem a sorte e morrem por ela.
Engasgam-se lambendo a vazia panela.
É dia e fui com ele.
Caminhei veredas mil.
Vi, ouvi, amei, chorei.
Encurvei-me perante a razão desenhada nos prédios.
Não mais perguntei até o outro dia.
Calei-me.
Será que amanhã estarei aqui?
É certo que vivo.
Mas garanto apenas o agora.
Precariamente, é claro!
Será que irei embora?
Pergunta tola a uma demasiadamente tola criatura do tempo.
Não sei...