Vendaval
Foi uma poeira,
mas junto um vendaval.
Varreu minha vida inteira
a rajada descomunal.
Foi tudo envolvido numa espiral
e se afastando gradualmente.
Foi embora tudo fugindo
tão rapidamente.
Foi uma poeira de dar dó,
depois que baixou fiquei só.
Chorei um choro seco
de vergonha em cada pó,
se é que se mede em pó.
Depois veio a chuva torrencial
e só não chovia no meu quintal.
A casa ficou vazia sem o casal,
morte dela e minha, afinal.
Olhar para onde agora,
tudo aqui era plural.
Se tiver que jogar coisa fora
vou eu embora.
Foi uma surra de vento,
palavras mortais.
Queria voltar no tempo,
mudar a rota desse vento
e não deixá-lo arrancar
o meu coração.
E a perturbação do meu sono
é a certeza de que sou
o único dono
de um vazio sem chão.
A poeira se foi,
até o vento a levou,
até levou com ele
o meu amor.
Deslocamento de ar,
diferenças de pressões,
não respiro mais
aquelas sensações,
virão outras ilusões.
Sopra vento ameno,
e a saudade grita!
Nenhum outro amor
outro amor imita.
E sofrer faz parte da vida,
e morreu minha dor doída.