PESCARIA

A palavra é isca de pescar sonhos

Às vezes, sonhos grandes e confusos

Outras, sonhos leves e graciosos

Ora tristes, ora alegres

Bobos, engraçados, absurdos

Pesados, impossíveis, inacabados...

Pra cada tipo de sonho

Há uma palavra isca adequada

Quando não, prepara-se palavra nova

Com o fermento da linguagem

No forno pré-aquecido da imaginação...

E, num dia inspirado à pesca

Lá vou eu poeta pescador de sonhos

À beira íngreme do lago nebuloso

Lanço a palavra e aguardo ansioso

Às vezes, ele vem rápido, sem demora

Salta em minhas mãos sem luta, implora

Noutras, não se mostra facilmente

Luta, resiste, tenta fugir num lapso da memória

Numa dessas escapole bailando nas águas turvas

Tento fisgá-lo em vão e não consigo

Volto pra casa da realidade

Alma triste e saburá vazio de sonhos

Olho nos olhos famintos que me esperam

E digo com extrema desolação:

“ _ Perdão, meus filhos, eis nosso dilema

Hoje, não pesquei sonhos, não haverá poemas...”

(Irene Cristina dos Santos Costa, Nina Costa, 1997)

Nina Costa
Enviado por Nina Costa em 04/01/2011
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