COTIDIANO...
Estou igual aquele senhor
cansado, entravando a rua.
Esperando apenas a morte.
Ele se segura na sua bengala,
como se ela, e, somente ela,
lhe mantivesse de pé e vivo.
Por todo o corpo uma aflição
terrível lhe esmaga os órgãos;
ele nem nota o céu esplêndido.
Um casal que se beija ao léu,
um carteiro que ainda trabalha,
e, um senhor que já trabalhou.
Na mente uma imagem burlada.
Sobre os ossos o peso do mundo;
nos olhos um horizonte sombrio.
Ele parece invisível, caminha sem
que ninguém lhe dirija a palavra;
quiçá fosse melhor a paz da morte.
Estou quase igual aquele senhor:
no meu caso, a minha poesia será
a única a ratificar minha existência.