COTIDIANO...

Estou igual aquele senhor

cansado, entravando a rua.

Esperando apenas a morte.

Ele se segura na sua bengala,

como se ela, e, somente ela,

lhe mantivesse de pé e vivo.

Por todo o corpo uma aflição

terrível lhe esmaga os órgãos;

ele nem nota o céu esplêndido.

Um casal que se beija ao léu,

um carteiro que ainda trabalha,

e, um senhor que já trabalhou.

Na mente uma imagem burlada.

Sobre os ossos o peso do mundo;

nos olhos um horizonte sombrio.

Ele parece invisível, caminha sem

que ninguém lhe dirija a palavra;

quiçá fosse melhor a paz da morte.

Estou quase igual aquele senhor:

no meu caso, a minha poesia será

a única a ratificar minha existência.

IVAN CORRÊA
Enviado por IVAN CORRÊA em 04/01/2011
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