tenho um amor
tenho um amor gentil
vindo lá de longe
vindo lá de dentro
dessa dor guardada
dessa dor calada
dessa minha dor civil
tenho um amor propício
de gestos próprios
intempestivos
caminhos sinuosos
ficiticios
de planos mirabolantes
sacrifícios
tenho um amor consorte
abalado pelas fortes emoções
das contidas nos amantes
quedas repentinas de edifícios
ameaças veladas de morte
fogos de artifícios
um sagaz invasor de corações
um vício
tenho um amor passageiro
passarinho
que sempre tem
por ter
um resto de abraço
um pouco de carinho
um beijo doce
e um espaço
guardado no seu ninho
tenho um amor parceiro
parcimonioso
discreto
dengoso
que tem muitos desejos
alguns sonhos
que não cabe mais em si
que não tem mais tamanho
tenho um amor bem aqui
em pessoa
espalhado pelo chão
jogado aos teus pés
pisoteado
incendiado a toa
jogado lá de cima do convés
abandonado no mar
em vão
ao invés
sem saber
se não
ao menos
quem és