Lenga-lenga
Lá fora o velho queixa-se
do arrendado no tutano dos ossos
O jovem dispensa o trabalho
ganhou uma tendinite no aniversário
O vizinho que anda na casa dos trinta
tapa os ouvidos, trabalha por turnos
A reforma do velho está torta
sofre de escoliose avançada
O rapaz ensaia a batida
a bateria está desafinada
O vizinho dorme de olhos abertos
já está anestesiado
O velho atrasa a hora da morte
O cangalheiro cobra caro
O moço continua empalhado
o pai paga, o filho aproveita
O vizinho perde o emprego
hipoteca a casa, vende o carro
Esta é a vida no meu bairro
Só que o velho morreu
O rapaz cresceu
e não tem trabalho
o pai tem o tutano arrendado
e eu vou dar o poema por acabado