CACHORRO QUENTE
POEMA:
Era uma noite como outra qualquer
Um domingo indefeso
As pessoas alvoroçadas com medo de contemplar
Estrelas que não haviam além das nuvens
As mulheres solitárias com suas crianças no parque
E pessoas desesperadas na igreja
Enquanto o marido canalha afogava seus orgasmos doentios
Num bordel imundo e barato:
Quatro prostitutas
Três garçons gays
Dois drinques
E um banheiro sujo cheirando a urina apodrecida
Ao lado da churrasqueira do restaurante
Um carrinho de cachorro-quente:
Uma mulher grávida
Com um casal adolescente se beijando
Demonstrando a paixão que um dia, num futuro breve,
Será indiferente
O calor dos abraços um dia esfria
E aquilo que aquecia o amor congela tal qual
O cadáver daquele velório triste e choroso
O fim de todo amor é culpa da morte
Se não do corpo ao deixar viúvos e lágrimas
Será da alma, culpa da saudade que não há mais
Cadáveres...
O amor é o refúgio da solidão, e a solidão
É uma espécie de abraçar o nada
Mas quem já saboreou o nada
Nunca esquece o gosto insosso da companhia
Bom... só sei que sei de uma porrada de coisas
Sócrates foi um cara modesto demais
O churrasco assara
O cachorro-quente não era vendido
O bordel, como sempre animado, seguia seu ritual
Já as beatas, faziam suas preces, rezas e orações
E no fim dessa noite mórbida
Sombria e sem a lua beijando os lábios ressacados de um céu opaco
Me deparo, na porta, ao chegar em casa
Com a bosta do meu cachorro
Estendida como se fosse um tapete vermelho
Me fazendo um ser bem vindo com o preço que valho
Eu mereço tal mérito
Pois o fracasso é o meu espelho quebrado!