Paz
O cheiro do asfalto molhado traz a lembrança da infância
Quando a culpa não existia e a dor era simples e externa
O barulho dos carros, velozes e angustiados,
Não sabem se vão chegar à tempo pro almoço do domingo
Cada pingo que cai é uma pensamento que brota
Como clips ou guarda-chuva: ninguém sabe como foram parar ali.
A vida, a família, a faculdade, o trabalho, os amigos, os amores,
A casa, o gato, as loucuras, as loucuras, as loucuras...
É tudo branco do lado de dentro, e mesmo assim não me traz paz
A paz que eu procuro é a mesma daquele primeiro cigarro
O mundo desmorona, e não há problema algum
Mais um trago e eu vejo o que faço depois
Mas a paz que eu preciso é vazia de sentido
Só é plena e satisfatória sem os sentimentos ruins
Eles não podem ultrapassar a barreira que a alma impõe
E de corpo fechado, só Deus e os anjos sobrevivem.