Partículas de minério
As partículas de minério que o vento sopra da mina
Invadem toda a cidade.
Cobrem os telhados do casario.
Cobrem os jardins
Cobrem as folhas das árvores.
Cobrem os gramados dos campos.
Cobrem as hortaliças dos quintais
Cobrem os bancos das praças.
Entram pelas frestas das janelas
das Igrejas.
Cobrem os altares.
Entram pelas frestas das janelas das nossas casas.
Cobrem os lençóis das nossas camas.
Cobrem as tolhas da mesa de jantar.
Entram pelas frestas das janelas de nossas escolas.
Cobrem as carteiras das salas de aulas.
Cobrem a mesa do nosso escritório.
Cobrem os balcões das vendas.
Cobrem as mesas dos botecos e restaurantes.
Cobrem os leitos dos hospitais.
Entram pelas nossas narinas.
Às vezes chegam até aos pulmões.
Flutuam no céu da cidade.
Durante o dia reluzem a luz do sol
Nas noites enluaradas reluzem a luz da lua.
Parecem milhares de vaga-lumes enfeitando os céus
da minha velha Itabira
As partículas de minério que o vento sopra da mina
Entram pela fresta dos túmulos dos cemitérios,
do Rosário do Cruzeiro e da Paz.
Misturam com a água da chuva.
Transformam-se em pedra.
Sela as campas de nossos queridos.