Porta-retrato
Euna Britto de Oliveira
www.euna.com.br
Passei a mão na cabeça de Clara,
estava quente e fria,
como se estivesse em banho-maria.
Vou cozinhando o poema
em cima de uma trempe pequena
de fogão de lenhas tortas,
pintado de tabatinga.
Na parede passa rápido uma lagartixa espevitada.
Estou passeando,
e meus filhos?
Uns dormem,
outros, nem de sono sabem.
Repinica, Kinica!
Eu não falei que o Léo vinha, onda?
Eu não falei que a Kika era levinha?
A maré dos ardentes é ali mesmo,
quem dobrar a esquina,
Dona Maria ensina.
A fresca da tarde me invade,
Dona Yolanda faz tijolos pra vender.
Os tijolos que as vontades vão fazer
virar banheiro, quarto, cozinha, parede
ou coluna pra rede!...