Porta-retrato

Euna Britto de Oliveira

www.euna.com.br

Passei a mão na cabeça de Clara,

estava quente e fria,

como se estivesse em banho-maria.

Vou cozinhando o poema

em cima de uma trempe pequena

de fogão de lenhas tortas,

pintado de tabatinga.

Na parede passa rápido uma lagartixa espevitada.

Estou passeando,

e meus filhos?

Uns dormem,

outros, nem de sono sabem.

Repinica, Kinica!

Eu não falei que o Léo vinha, onda?

Eu não falei que a Kika era levinha?

A maré dos ardentes é ali mesmo,

quem dobrar a esquina,

Dona Maria ensina.

A fresca da tarde me invade,

Dona Yolanda faz tijolos pra vender.

Os tijolos que as vontades vão fazer

virar banheiro, quarto, cozinha, parede

ou coluna pra rede!...

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 22/10/2006
Código do texto: T270346