amar(g)o

um gosto amaro na boca

e o olhar sobressaltado

ante aos eventuais murmúrios

da travada seca de mim.

parece que o mar fechou-se

trancou as portas enfim

e não mais se ouvem em silêncio

os sons mistérios das marés.

vergonha de ser só eu

de ser somente o que não sou

de ter somente o que me falta

e carregar o soluço preso com um cego nó.

vergonha de me calar

a voz rouca muda e farta

da fartura que é tão pouca

e de mim suporta o pior.

na verdade a espera é insana

a certeza é prova de que nada há

e o desejo petrificado para sempre

na boca amarga

sem o gosto do perdão...

Marco Carneiro
Enviado por Marco Carneiro em 22/10/2006
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