Vozes Interiores

Não percebei que perturbais os meus sonhos?
Que a vossa sombra traslada-se, incessantemente,
como o pêndulo a fustigar-me o relaxar?
Vós já imaginastes quão massificante
é o ajuntar pedras de um quebra-cabeça
quando o fazemos por dever ou ofício?

Os fracassos, os pesadelos, são salutares posto que
oferecem a oportunidade para o amadurecer.
Já os compromissos e as palavras “produzidas”
prestam-se aos escribas e oradores de retórica,
mormente se jorrados do intelecto estereotipado.

Não me curvarei, portanto a essas “vozes”
Inclinar-me-ei à magia da linguagem poética
dos vocábulos ditados pela sensibilidade;
Inseridos no pergaminho com todo o meu ardor
e esculpidos por mãos cuja leveza
contrasta com o ritmar mecânico do estenógrafo.

Como o lavrador, que reúne espécimes de sementes
e as esparge em solos férteis
(para no outono colher frutos de múltiplos sabores),
assim lanço ao vento os meus versos;
uns doces, outros amargos, conquanto para mim
tenham todos o mesmo paladar.