A Ceia

Tanto tempo já passou

entre quem senta à mesa.

Cinquentões, como disse Drumonnd*.

Espetam as carnes

e os sonhos que não se fizeram.

E sorriem de si e do que não tiveram...

Tanto já houve

entre o peru e a couve:

amores vividos,

desejos partidos

nos bons (?) tempos idos.

Ri-se da realidade que ficamos,

das lágrimas que secamos

e das utopias que abandonamos...

Assados, bebidos,

tristes, desiludidos

fazemos o arremedo

de quem já quis tudo

e hoje se queda mudo.

A crianças viraram o que fomos

e repetem a velha pantomima

da extinta Minas com rima:

Sonhos calados

e engolidos aos bocados,

com os presuntos

dos que não são mais juntos.

Mágoas sufocadas

chegam com as sobremesas.

Logo o sono dos embriagados

apagará os certos e os errados...

*Inspirado em "A Mesa" de Carlos Drumonnd de Andrade