Conselho de pai

Eu só tinha um fósforo, filho

E acendi o cigarro pelo filtro

Traguei, tossi, joguei e cuspi

Depois parei a olhar o tempo

Ah, se Chopin não me fosse tão erótico

Ou se tivesse outro maço, outro fósforo

Pensei, chorei, sequei e sumi

Corri sem par até faltar-me fôlego

Queria eu, filho, alertar-te dos desvios

Destas cousas que se enraízam no destino

Sujei, sangrei, deitei, dormi

E sonhei que agonizava num paraíso

Se diante deste universo indeciso

Meu mapa não guiasse ao infinito

Empacaria, tragaria, viveria

Aditando eternamente todos sonhos

Mas, filho, sou teu reflexo, mas raquítico

As rosas me riem, o sol me acena um brilho

Poetizarei, idealizarei

Admoestando-te: Não sonha, vive!