poema SEM NOME

Um pouco de mim

deixei pelos caminhos que andei:

sonhos, desgostos, desejos e suor.

Duravam uma eternidade

aquelas noites de frio intenso.

Eternizaram em mim

as feridas daquele tempo.

É isto esta casca dura

que trago sob minhas vestes.

Estas rugas nas minhas faces

não são de agora não.

Surgiram da poeira dos dias

que passei solto pelas estradas.

Estes caminhos que percorri

sorveram metade da brandura

que havia no meu olhar de homem.

A outra metade trago agora

oculta até de mim mesmo.

Plantei na poeira dos caminhos

a planta do meu pé descalço.

Plantaram em mim as dores

de João, Antônio, Manoel e José...

Carrego sobre os lombos as dores do mundo.

No barulho angustiante do silêncio,

o que me acalmava era

sentir o vento madrugador

acarinhando o meu rosto.

Na fé do caminhante eram carícias

de Deus num ser solitário e padecedor.

Eu, que pensava que ficava

pouco a pouco naqueles caminhos...

Somente agora percebo que foram

eles que foram ficando em mim.

Cada curva, cada monte, cada chuva

alongada nas noites frias,

lavava meus defeitos e

deixava-me casto de novo.

Sobrevivi às tempestades

e a dureza dos caminhos;

as partes que perdi, de

fato não me pertenciam.

As marcas do tempo

é que me deixaram assim:

de semblante triste e meio rude

ou de semblante rude e meio triste,

não sei bem ao certo.

IVAN CORRÊA
Enviado por IVAN CORRÊA em 28/12/2010
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