aí vem a tempestade

tigres gritam grosso

andam impacientes de um lado para o outro

nuvens todo bramantes

dão-se encontrôes irritadas

em algum lugar mães gritam pelos filhos

pela rua

corações contraem-se eternos

em peitos apreensivos dos meninos

todos olham para o céu trevoso

andando apressados pelo meio fio

meio surpresos com temeridades estranhas

surpreendem-se com a surpresa no rosto dos outros

velhos anunciam que vai cair chuva

escarram tosses primevas

relógios perdem-se sem mais função

fecham portas de aço vendedores assustados

ruge de imprevisto o primeiro trovão

tudo treme tuydo ecoa

a voz que troveja ninguém sabe de onde

janelas se fecham precavidas

crianças choram medos ancestrais

nos colos macios de mulheres amorosas

o poeta escreve febril

sem tempo para temer o tempo

anuncia-se

tempestade!

Tememos?fugimos?trememos?

que venham logo essas divinas gotas grossas!

não esperemos mais a tempestade

que se esperada já não é tempestade

se por demais temida é só ansiedade

é agora ou agora,molhemo-nos

nos encontre ela com roupas leves

com ânimo ligeiro,espírito breve

molhe-nos ela sem dó

sem pudor nos lamba

cubra-nos sem vergonha

una-nos em abraços convulsos de susto

beije-nos lentamente sem nenhuma vergonha

goze-nos sem pressa

erre-nos filhos todos da mesma divina imperfeição

trema-nos em carnes elétricas

em nervos tensos

em sangue fluido como a sua chuva

ela chega linda e moça