A Valsa

A Valsa

Eu só não entendo quando acontece de duas pessoas que se amam tanto não conseguirem se entender de verdade. Eu danço para não racionalizar o sentimento que tanto sinto, e ofereço uma dança a quem sinta que não possa entender as confusões tão óbvias dos nossos corações. Valsa, foi-se o tempo em que era exclusividade. Até os mais pobres de espírito têm o direito de amar.

A Valsa

Dois para lá

Dois para cá

Dois que se cruzam

E jamais se apagam da memória.

Um de paixões meteóricas

Um de dolorosas retóricas

Dois para lá

Dois para cá

E no três quartos

Sobra um quarto vazio

E de compasso errado

Dois para cá em harmonia

Dois para lá que vão embora

Duas idéias conjuntas

Duas almas perdidas

Duas longas conversas

Duas para sempre feridas.

Dois beijos de desculpas

Duas paixões duas nucas

Duas mãos que se apertam

Dois corações que se expremem

Uma banda toca enquanto acertam

Se bramirem, alvoraçarem enquanto tremem.

Duas conversas inexistentes

Dois corações que dóem, latentes

Duas invisíveis conclusões

Sob soluços de terríveis confusões.

Duas vontades indivisíveis

Duas declarações impossíveis

Dois sonhos que acontecem

Que apenas nas fronhas permanecem.

Dois desejos adiante e como além

Duas dúvidas de quem, com quem.

Duas nuvens brancas e límpidas

Duas nuvens negras e pesadas

Dois sopros de brisa

Em dois suspiros de alívio

Numa nuvem que se vai sem sentido

De um compasso que sobra com uma pausa

De três quatros

De dois para lá, dois para cá.

Nas valsas dos momentos sozinhos

O casal de dançantes se separa

Dois para lá

O casal de dançantes se apara

Dois para cá

Caminhando na valsa frêmita

De sussuros nunca antes ensinados

Mas já aprendidos, já adotados

Dançando enquanto podem

Na juventude dos últimos amores

Da esperança de tentar pela última vez

Mais uma última valsa

Como se fosse a primeira.

Matheus Vieira
Enviado por Matheus Vieira em 27/12/2010
Código do texto: T2693819