O poema não me engana
O meu poema não me engana quando chega manso
querendo ser brando/ ser samba
ser rock
ciranda de roda
desanda
O meu poema não é desfile de moda
é nódoa no brim branco/ destoa
desanca/ desacata/ se rebela/ desata
é sangria/ mênstruo
soturno
dá nó na palavra
lavra sincera
mas pode ficar chato se diletante
dando volta em torno de si
como agora
fora!
O meu poema se esvai e volta/ não se esgota
não se retém
não se detém
vai fundo/ até a última gota
mas brota
revigora-se na primeira chuva
sobe
Ele grita/ fura o asfalto/ sapateia/ faz carnaval
Poema meu que se preza tem peso/ mas não afunda
inunda/ chove torrencialmente
se infiltra
milita mas não se limita
rima mas não se alinha fácil
desfia/ desafia/ desafina
desatino puro
grita e esperneia/ não se engana
ele trama/ quebra tudo
depois se reconstrói
letra por letra (torta)