Côvão
Aprecio o redil de bambu
Amarrado em esteiras talhadas de fantasias
Ai do pescador que com este covo estiver munido
Ai do peixe que por ele for atingido
Pedaço de pau estreitando caminhos
Nadam livres poderosos cardumes
Mas se deixam enganar por tão sedutora armadilha
E farejam, e procuram, e buscam o resto de alimento
E comem, desfrutam e se agonizam na saída
E não há mais saída
E não há mais comida
E não há mais nada o que devorar
Prisioneiros da fome
Prisioneiros do desejo
Da armadilha de pescador
Covo de artifício
O fim é o precipício
Imenso vazio
Emaranhado
Desejo louco lançado
Por quem sabe armar
Camarões de ilusões
Covos de um homem só
Livre para viver e, da armadilha, sobreviver
É o seu redil de fantasia
Doce agonia o de possuir e de manter
Curral alado que navega apoiado por barbantes
Doce prisão: o que está do lado de fora, na areia, nas margens, na fronteira.