Trova arrítmica
Eu queria nesta vida ter nascido
Com o talento do ritmado trovador
Pois para este malfadado amor
Que definha em mim já ressequido
Prosa e verso simples não me servem
Eu quero uma cantiga, quero um fado
Mas a caneta e que jaz aqui do lado
Não dá ritmo ao que minhas mãos escrevem
Queria o dom e inspiração
Dos poetas de além-mar
Ou a simplicidade do embolar
De um poeta do sertão
Pois sou escritor pela metade
Cientista sem entusiasmo
Sofro em pleonasmo
Mais do que permite a minha idade
E, no entanto, disso tudo
Extraio pobres versos sem cor
Melodias cinzas, sem sabor
Lágrimas e um desespero mudo
E para a mulher com quem ainda sonho
Finjo sorrisos e uma amizade inocente
Eu a quero do meu lado novamente
Mas um exílio de mim mesmo me imponho