O TERÇO
O TERÇO
À DONA ADELAIDE ( Minha sogra)
Reza o terço todo o dia,
Que agonia.
Depois do terço,
Levanta do berço,
Lê o breviário,
Reza o rosário...
Luta sem fim,
Reza por mim,
Por todo mundo,
Vai fundo,
Na casa de Deus,
Conta os sonhos seus.
Perdeu o marido,
Mais de meio século vivido,
Exatos secenta e três anos,
De certezas e enganos,
Lutaram de verdade,
Não agüentou a saudade.
Um dia,
Acaba a agonia,
É atendida,
Na sua partida,
Chora a família,
Mas dela faziam ilha.
Choros falsos,
Com os percalços,
Fingido soluço,
Oculto e debruço,
Na urna mortuária,
Lá vai a octogenária.
Na minha memória,
Registro a estória,
De quem a felicidade.
Com toda a maldade,
Esqueceu de olhar,
Vamos por ela rezar.
O íntimo nos diz,
Faze-la feliz
No momento derradeiro,
Entoar primeiro,
A velha canção,
Que trazia no coração.
A Índia cantada,
À Índia velada,
Dá-lhes o adeus,
Filhos seus,
E amigos diversos,
De todos os Universos.
Partida chorada,
Partida criticada,
Quem entendeu,
Entendeu. Quem não, entendeu.
Quem reclamou também,
Leva a dúvida ao além.
Mas naquele instante,
A lágrima errante,
Encontrou o berço,
Nas conchas do terço,
As conchas da vida,
No Adeus da Partida.
De quem chorou de emoção,
Ao ouvir a canção,
Viu Deus a lhe amparar,
E os santos lha acompanhar
Até ao céu e vê-la,
Virando uma estrela.
Goiania, 22 de dezembro de 2010.