Viagens singulares: amistosa fruição
Guarde silêncio quando for falar,
Amigo é coisa séria.
Sinto prazer em tê-los,
tão-somente por sorvê-los,
com toda paixão.
Não importa se é momentâneo.
E o que é a vida senão instantes,
fragmentos de uma grande peça,
que se monta em atos,
em cenas particulares,
nos lugares mais inusitados,
no tempo...
E não pense que há interesse.
Ouço-os com todo carinho,
cada palavra,
cada ensinamento,
não para os ter somente meu,
mas pela fruição desinteressada.
E não pense, outra vez,
que o desinteresse se faz pela gente,
antes, pelo mundo,
que some quando,
só de respirar o mesmo ar,
se faz inebriante,
some ao largo,
debaixo dos pés.
E não pense que não é pela eternidade.
E o que é o eterno senão os momentos que se gravam,
para sempre,
no tempo, na memória, na história,
por mais particular -
e intransferível -
que seja.
É tão belo o convívio,
a fruição,
a inutilidade de tudo isso.
É belo.
E quando, pensem, houver algo de útil,
o amigo se perde no tempo,
torna-se esdrúxulo.
Vivo-os.
Assim como me vivem, sempre.
E a rara beleza existencial reside aqui,
e és mui bela,
por fim.