COMO SE FOSSEM MÉRITOS...
“Ao meu pai, Homero Pereira da Silva, que se foi em dezembro de 2009, vítima de enfisema pulmonar...”
Meu pai, que estudou três meses na vida e
sabia dividir, somar e multiplicar. Percentagem,
sabia melhor que doutor formado em universidades;
sobre arrobas, volumes e não sei que mais medidas, era mestre...
Meu pai, que brincou com a vida durante
a vida toda, montando cavalo xucro, fazendo
arruaças em festas, se dizendo mais homem que outros
homens, no tempo em que se andavam armados até os dentes...
Meu pai, que sempre achou que a sorte ia
encontrá-lo, mais cedo ou mais tarde; sempre
apostava um troco num jogo qualquer, sem se descuidar
do custeio da casa. Sagrado era pagar tudo a tempo e a hora...
Meu pai, que mais velho falava dos maus feitos
como se fossem méritos, contava isso e aquilo e um
sorriso natural lhe saía dos lábios, coisa rara de se acontecer
naquele homem; que sempre se mostrava mais triste que ontem...
Meu pai, que agora dorme calmo naquele Campo
Santo, deve sentir falta de gente para lembrar as proezas
de quando era jovem e sadio, deve sentir sede de uns tragos e
deve estar mais triste que antes; logo ele, que já era triste demais...