MORTIFICAÇÃO - POEMA 113
AH, VIDA ! VENS ME TÃO PEQUENA!
OLHANDO-ME DO ALTO.
FAZENDO-ME A PERCEPÇÃO QUE A VIDA É PEQUENA
RUIM E VAGO O RELOGIO QUE A MOVIMENTA
SEM UM SONHO CORADO QUE A FAÇA JUSTIÇA
ILUSÃO PERFUMADA QUE JUSTIFIQUE-LHE O NASCIMENTO.
SOMOS A DURABILIDADE DO ANTES.
O BONDE NA CURVA ASSOMANDO O FUTURO.
CAIDO ESTÁ O NOSSO IMPÉRIO.
PRESTEM ATENÇÃO NAS NUVENS
ELES QUEREM NOS DIZER ALGO DOS CÉUS
MAS PARA OUVI-LA SÃO PRECISOS OLHOS IMENSOS
OUVIDOS QUE A SAIBAM SENTIR NO TRANSFIGURAR-SE
EM QUE ELAS, AS NUVENS, MUDAM DE ALMAS.
VARIANDO A ESPECIE, MATANDO O TÉDIO.
CONFORMANDO-NOS A NOVAS AVENTURAS E SONHOS.
PARA DELAS TAMBÉM NÃO NOS QUEIXARMOS...
A MESMA VIDA VIDA SEMPRE.
AH QUE MORTIFICAÇÃO !
O MESMO CORPO, A MESMA FACE, VIDA AFORA OS BEIJOS.
QUEM ME DERA TROCAR-ME DE GENTE A CADA SEGUNDO!
QUE ME DERA PRESENTEAR O OUTRO COM OUTRO EU MEU?
SOU UM QUEBRA CABEÇAS COM AS PEÇAS PELO MAR.
AS AGUAS TEM A POSSIBILIDADE DE UNIREM -ME OU
AFOGAREM -ME , PARA SEMPRE!
A SEGUNDA HIPOTESE SERIA UM GRANDE PRESENTE.
A REALIDADE NOS DÁ FEIOS PRESENTES.
ENGANA-SE QUEM PENSA QUE É IMPORTANTE MUITO TEMPO.
MORTIFICAMOS A TODOS , SEMPRE
COM A NOSSA PRESENÇA EM DEMASIA.
TUDO O QUE PERMITO AMIM , PERMITO A AGONIA.
DE TUDO O QUE TRANSPAREÇO, MUITO POUCO É A FOLIA.
SEJA ELA O ARREMEDO DA ORGIA!
POR QUE A VIDA NASCE CONTINUAMENTE, SEM FREIOS?
NÃO É INTERROMPIDA AO CAIR DOS FRAGEIS SONHOS ?
PORQUE A VIDA NÃO TERMINA...
QUANDO SENTE MORRER O AMOR PERTO DO ÁPICE ?
OU É VILMENTE ESMAGADA
QUANDO COMPREENDE A REALIDADE ?
VIVER É NÃO VIVER...
MORREMOS, ENQUANTO O TEMPO E AS HORAS
SEDIMENTAM-SE. ACRESCENTAM-SE. SOMAM-SE UNOS
MESMO QUANDO BRADAMOS QUE SOMOS INFELIZES
IGNORADOS POR DEUS, AQUI FICAMOS.
NESTA MORTIFICAÇÃO DENÃO SER!
ETERNO BREU DA HUMANIDADE.
CADÊ A PROMETIDA IMORTALIDADE ?
A GARGANTA DA VIDA SIM, SEMPRE MORTIFICADA!
SEM DIREITO AO SOPRO, A RESPIRAÇÃO E AO GRITO
SEM DIREITO ALGUM, APENAS AO SILENCIO!
NAS HORAS, TEMPOS, SEGUNDOS
TIJOLOS DURAM MAIS QUE OS HOMENS!
TÃO POUCO SOFREM.
DEUS DEU A DOR APENAS A MATÉRIA HUMANA.
ISTO É A MAIOR FATALIDADE DE DEUS.
MAURICIO DE AZEVEDO
METEMPSICOSES - A ALMA DE FERNANDO PESSOA