Tardes de domingo
Esta tarde de domingo está em mim tão cinzenta...
Tento descobrir por que estou assim, ingrato,
Desprezando a beleza da tarde, que passa lenta,
Muito lenta... Será domingo, de fato?...
Esta tarde de domingo se escoa lentamente
E da minha janela, tento para ela sorrir;
Mas meu coração está molhado docemente
De uma estranha saudade de ti...
Relembro outras tardes de domingo diferentes,
Mas, como agora, tecendo a fantasia predileta
Da mulher que só era minha em sonhos frementes!
E foi por isso – só por isso – que me tornei poeta!...
Muitas tardes de domingo da minha vida
Passei esperando doidamente uma chegada,
Esquecendo a urgência de qualquer partida
E me crescendo a presença da indefinida amada!...
E nesta tarde de domingo, esta saudade de ti,
Que, vida toda, um dia se esvai, outro revive,
É enigma: por que, por essas tardes, tanto te perdi,
Se em nenhuma tarde de domingo eu te tive?
Sinto que chegaste, mas tão longe ainda, em pura
Névoa de uma incerta esperança;
Não importa! Minha silente oferenda de ternura
Voa em nuvem dourada e já te alcança!...