Não há de ser nada
Deixei o chuveiro ligado,
a noite inteira,
para simular uma tempestade,
do céu não caia uma gota d´água,
mas não há de ser nada.
Imagino pessoas,
todos os dias,
e as chamo de fantasmas,
para conversarem comigo,
sem escutar sequer uma palavra,
me falam ao ouvido:
"não há de ser nada".
Troquei a cozinha de lugar com a sala,
a suíte ficou no porão da casa,
a geladeira está no centro da varanda,
e as luzes estão todas queimadas,
nas paredes fotografias de mulheres nuas,
mas não as chamo de putas, não são putas,
são companhias, são companheiras.
Pintei a casa toda de vermelha,
dos documentos importante fiz uma enorme fogueira,
todos os quadros deixei de ponta cabeça,
E a cachaça, a maldita da cachaça vendida na feira,
nunca mais faltou sobre a mesa,
mas não há de ser nada.
E a tempestade tem som de saudade,
E os fantasmas sussurram palavras de saudades,
E a casa está desconfigurada como a saudade,
E a saudade me arde como uma fogueira de São João.
E a cada gole de cachaça é uma saudade que me invade a garganta,
e escorre até o coração,
Mas não há de ser nada,
não há de ser nada,
não há de ser,
nada mais que algumas das minhas maluquices.