Não há de ser nada

Deixei o chuveiro ligado,

a noite inteira,

para simular uma tempestade,

do céu não caia uma gota d´água,

mas não há de ser nada.

Imagino pessoas,

todos os dias,

e as chamo de fantasmas,

para conversarem comigo,

sem escutar sequer uma palavra,

me falam ao ouvido:

"não há de ser nada".

Troquei a cozinha de lugar com a sala,

a suíte ficou no porão da casa,

a geladeira está no centro da varanda,

e as luzes estão todas queimadas,

nas paredes fotografias de mulheres nuas,

mas não as chamo de putas, não são putas,

são companhias, são companheiras.

Pintei a casa toda de vermelha,

dos documentos importante fiz uma enorme fogueira,

todos os quadros deixei de ponta cabeça,

E a cachaça, a maldita da cachaça vendida na feira,

nunca mais faltou sobre a mesa,

mas não há de ser nada.

E a tempestade tem som de saudade,

E os fantasmas sussurram palavras de saudades,

E a casa está desconfigurada como a saudade,

E a saudade me arde como uma fogueira de São João.

E a cada gole de cachaça é uma saudade que me invade a garganta,

e escorre até o coração,

Mas não há de ser nada,

não há de ser nada,

não há de ser,

nada mais que algumas das minhas maluquices.

Fernando Vargas
Enviado por Fernando Vargas em 17/12/2010
Reeditado em 26/04/2018
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