ESPELHO
Em que espelho teu minha imagem refletirá?
- E se arde tudo? - Que tem? Que imagem será?
Qual flor entreaberta do dia ao raiar, transpiravam
as falas sentidas que os olhos falavam
firmando-se em meu braço, fugimos do mundo talvez!
Eu cantava na flauta: Nas noites d'estio
Então nesse instante pleno de águas do rio
Agora vos jurava... Palavra! - não minto!
Aqui faço ponto - segredos do amor que sinto.
Nessas horas de silêncio, de tristezas e de amor,
em palavras desnecessárias, qualquer deslize é dor.
Desce por fim sobre o meu coração
O olvido. O maculado. Absoluto céu da paixão!
E sobre nós cai flocos de neve,
surda, em triunfo, pétalas de leve
Em redor do teu vulto é como um véu!
Quem as espargia? — Quanta flor! — do céu,
Sobre nós dois caía, reflexos molhados do mais puro mel.