ATÉ QUANDO?
Nestas ruas incertas de qualquer certeza
neste ares de perfeita estranheza
na fumaça vadia que impõe sutileza
é face mascarada escondendo a pobreza
Jorram palavras as bocas de desencanto
reclamam as barrigas da fome do enquanto
cospem na face do íntimo e árduo pranto
A Deus perguntam: "Até quando?"
E meus olhos se fecham entre as lágrimas cansadas
por ver crianças ao relento, jogadas nas calçadas
sobre jornais, almas dilaceradas
a espera de qualquer centavo nesta vida de quase nada
Qualquer moeda é risada
é conforto qualquer migalha
é menos fome, a barriga mal forrada
é mais cômodo fechar os olhos pra desgraça
Até quando ficaremos inerte sem fazer nada?