FRAGMENTOS

(...) " A Lua, que até ali permanecera calada, aproximou-se com passos de bailarina e voz de oceano, e me disse as seguintes palavras:

Eu sou Senhora do sangue sagrado.

a meretriz dos sucos vaginais.

sou aquela que encarna o pecado

e habita as grotas infernais.

Fui eu que te dei o desejo

que desenhei no teu corpo

todos os riscos do sexo.

Fui eu que te embalei nos braços

e disse a todas que eras mulher.

Sou eu que ainda te guio

nos descaminhos que inventaste.

Sou eu que sustento as violações

de um corpo que mutilaste.

Tu, que és parte de mim mesma,

esqueceste o lugar que te gerou.

Tomaste um rumo avesso e contrário

e renegaste quem te criou.

Mas tu és lua, mulher e loba,

e serás assim até o instante final.

Não serás ferida,

porque és cura.

Não será dor,

porque és prazer.

Não serás culpa,

porque és vida.

Não serás certeza,

porque és abismo!"

(Fragmento de texto retirado do livro: A panela de Afrodite - Márcia Frazão