Nunca diga
A ausência do que falar confronta com a angústia da mudez
Essa mudez ensurdecedora que teima em estourar meus tímpanos
Quero falar
Não quero dizer
Não quero ser ouvido
Quero falar
“Falar” é farto de rastros invisíveis pela visão
O dizer sempre é traído pela audição
A fala
Esta sim está sofrendo
Na sua claustrofobia rotineira
Presa entre as costelas e o fígado
Rasgando os ligamentos entre todas as células
Num mundo, qualquer, inexplorado.
Quero falar
Não quero dizer
Não quero palavras
Danem-se os verbos, propósitos e méritos.
Eu não quero querer
Eu não quero não querer
Não sei o que quero, eu.
Quero uma frase grande
Agora vou falar tudo aquilo que dizem, quando na verdade deveriam estar falando:
Eu quero falar!