Redescoberta

Ontem o calor me convenceu

a ir dormir na varanda

Colchão, lençol e travesseiros

acomodei-me sob o céu

Sentimento exato

de quando tinha dez anos

e minha mãe me permitiu

dormir no quintal

Olhos poetas

vasculham céu sem estrela

aprendendo nuances da noite

Barulho de vento brincando com folha

em ventilador sem hélice

Conversa e risada ao longe

em novela do cotidiano

Ruídos da vida embalando sono

Manhãzinha

Alvorada clareia pálpebra fechada

só para contar

que céu nublado

também é bonito de ver

quando começa a perder noite

Vento morno

sopra pele sob lençol fino

e emaranha cacho de cabelo

em preguiçoso cafuné

Aninhada entre travesseiros

cochilo

Manhã vai alta no céu

Acordo para a semana

Em noite quente de verão

redescoberta de ar

que não é condicionado

Em dia nublado

com tirinhas de azul

levo dentro de mim

Ar livre!

(Dezembro de 2010)