Galeria
Depois que nos fartamos dos vazios do mundo,
Surge, intrépido, o vazio da alma.
Numa hora incerta do dia,
Dia a dia todos os diamantes que adornei
Em ouro de tolo e ferro comido
Por tempo e maresia,
Todos eram de vidro.
E no incessante desejo de ter a mais
Começamos a ser a menos,
No desejo absurdo de ser visto (e de não se ver)
Sou como a luz negra para o olho cego,
Como o vento inerte girando velhos moinhos
Que não existem mais,
Sou pintura, na galeria onde não entra ninguém,
E tudo isso seria ao menos útil
Se a nudez e tudo o frio em volta falassem a mesma língua,
Mas a língua do frio não é a da alma,
E a alma nua é o que é,
A verdade,
Gritante.