Galeria

Depois que nos fartamos dos vazios do mundo,

Surge, intrépido, o vazio da alma.

Numa hora incerta do dia,

Dia a dia todos os diamantes que adornei

Em ouro de tolo e ferro comido

Por tempo e maresia,

Todos eram de vidro.

E no incessante desejo de ter a mais

Começamos a ser a menos,

No desejo absurdo de ser visto (e de não se ver)

Sou como a luz negra para o olho cego,

Como o vento inerte girando velhos moinhos

Que não existem mais,

Sou pintura, na galeria onde não entra ninguém,

E tudo isso seria ao menos útil

Se a nudez e tudo o frio em volta falassem a mesma língua,

Mas a língua do frio não é a da alma,

E a alma nua é o que é,

A verdade,

Gritante.

Lucio Lobo
Enviado por Lucio Lobo em 12/12/2010
Código do texto: T2668122
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