CORAÇÃO DE BOI

CORAÇÃO DE BOI

O Divã de Meu Calado Pé de Manga

Nunca tive medo de voar

O medo vem é quando pouso

É por isto que estou morrendo

Estar pousado da fome

E a fome de voar novamente

Tira-me o riso

E seu poder curador

Coração de boi

Era a manga de meu quintal

Seus galhos rijos de folhas verdes escuras

Sustentavam meus pousos

Minhas lágrimas

Meus gritos calados

Nunca gostei daquela manga enorme e carnuda

Era o pé – A árvore

A árvore meu divã, porto, aeroporto, rodoviária

Era ali que estava minha cara

Casa – comida

Minha fome de mim

Minha sede de eu

Sempre mangou de mim

Já não há mais pouso ali

Ainda sinto fome de voar

Nem sempre voei o quanto quis

E dói sempre pousar

No medo de ficar pousado for ever

De pousar tarde demais

Jamais pensei ressabiado

Por não ter voado o quanto quis

É que o Mar rio de minha Quintana

Na imagem da mangueira surge rindo

Bruma da lembrança

Já é agora, "tarde demais para ser reprovado"

Sylvio Neto
Enviado por Sylvio Neto em 21/06/2005
Código do texto: T26654