CORAÇÃO DE BOI
CORAÇÃO DE BOI
O Divã de Meu Calado Pé de Manga
Nunca tive medo de voar
O medo vem é quando pouso
É por isto que estou morrendo
Estar pousado da fome
E a fome de voar novamente
Tira-me o riso
E seu poder curador
Coração de boi
Era a manga de meu quintal
Seus galhos rijos de folhas verdes escuras
Sustentavam meus pousos
Minhas lágrimas
Meus gritos calados
Nunca gostei daquela manga enorme e carnuda
Era o pé – A árvore
A árvore meu divã, porto, aeroporto, rodoviária
Era ali que estava minha cara
Casa – comida
Minha fome de mim
Minha sede de eu
Sempre mangou de mim
Já não há mais pouso ali
Ainda sinto fome de voar
Nem sempre voei o quanto quis
E dói sempre pousar
No medo de ficar pousado for ever
De pousar tarde demais
Jamais pensei ressabiado
Por não ter voado o quanto quis
É que o Mar rio de minha Quintana
Na imagem da mangueira surge rindo
Bruma da lembrança
Já é agora, "tarde demais para ser reprovado"