FLORES DO INVERNO
FLORES DO INVERNO
As taças cheias,
O sorriso estampado na latência da falsidade
A idade que teima em prosseguir a cada segundo
E o mais sórdido dos mundos,
Imundo,
Doente,
Renitente e sozinho,
Inocente e menino,
As gotas que respingam sobre a mesa,
Não são de vinho...
São meus pulsos,
Que se fenderam,
Pela navalha afiada que dividiu minha consciência...
Antes de tudo e depois de tudo,
Assim como a minha sorte,
Lançada com os dados de Deus,
E amparada com os dardos da morte,
E o sangue se esparrama até ao calendário,
E na rosa dos ventos,
No cálice santo,
Vejo o perdão há dois dias adiante de mim,
Nas paredes pichadas...
Nos becos escuros...
Na ausência de cor...
E é de sangue pisado o terrível odor,
No inverno do cerrado as arvores secam...
Secam-se as esperanças também no inverno do cerrado,
Mas mesmo nos galhos secos,
Brotam-se flores,
E quando brotam as flores,
As taças se enchem,
Não mais do vinho áspero da morte,
Mas do sangue de vida...
Sérgio Ildefonso 25.05.2007