Réquiem Para Um Fim Próximo

Sinto um certo aperto

quando me bate a certeza

de que não mais terei o deleite

de poder contar com você todos os dias.

Sinto uma certa e antecipada dor

por saber que não mais te atormentarei

com os meus lamúrios e imprecações

e com os disparates sobre o seu traseiro.

Dói-me saber que não vou ter pra quem contar

minhas presepadas e desventuras

durante o dia, todos os dias, o dia inteiro.

Dói-me saber que não vou mais alisar o seu queixo

e levantar sua blusa e te estapear o braço

e olhar sua calcinha e te olhar nos olhos

e ouvir sua risada de deboche.

Afeta-me saber que para ganhar liberdade

eu tenho que pagar o preço de me libertar,

também, de uma pessoa que conseguiu

manter comigo a concepção do "liberal".

Sinto-me incapaz, de antemão, de poder

confiar em alguém da forma como

eu confiei em você; pra tudo, por tudo,

desde o mais trivial ao mais complexo dos problemas.

Sinto-me inútil ao tardiamente constatar

que não fui tão bom pra você

como você o foi para mim.

Agora mesmo, enquanto escrevo isto

você se debruça na minha mesa

pra tentar pescoçar as palavras

que são pra você.

E sei que esta é uma das últimas vezes

em que darei alt+tab e roubarei a sua água

e vou falar "uma parada aí" quando você

perguntar "O que você tá escrevendo?".

Uma das últimas vezes que eu vou te pedir em

casamento e pra variar, não ouvir a sua resposta

quando no corredor passar algum rabo bonito

que vai te fazer fechar a cara por algumas horas.

Uma das últimas vezes que eu vou choramingar

no teu ouvido por não saber o que é uma

Seqüência de Propriedade e fazer ceninha

quando o Raj aparecer com o braço peludo dele.

Uma das últimas vezes que minha moral

será lançada ao limbo pelos nossos amigos

que dão todo o arrimo para que nos agarremos

e a coisa não acontece por que

eu sou frouxo e você é durona.

Tento adiar a corda no pescoço

que nos apertará a garganta no dia

em que finalmente eu sair deste lugar

para nunca mais voltar.

Tento adiar a corda no pescoço

fazendo a evasão do que já me acomete

e me deixa mais sentimental do que

eu posso permitir pois

não quero no dia do nosso último abraço

fazer com que misturemos nossas

lágrimas, profusas na certeza de que

fomos especiais um para o outro e que

não mais viveremos da mesma forma

não mais nos veremos com essa freqüência

não mais nos comunicaremos sem abrir a boca

e não mais compartilharemos nosso mútuo mau humor.

E quando você me perguntar se eu te amo

eu vou não enrolar pra responder que "sim";

e dessa vez eu vou responder ao seu

sempre subseqüente "por quê?".

Te amo por que você é

única e

insubstituível,

Nenis.

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 09/12/2010
Código do texto: T2662362
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.