Metade
O sol, um ponto final,
uma roda e
a lua, uma vírgula, uma
normal.
Nada além do dia e
da noite me aparecia,
mas a noite parece
igual.
Uma estrela ali, outra
mais lá do que cá,
esfrego meus olhos,
afinal.
Tudo some neste
quadro na parede,
já enxerguei melhor
o seu significado
quando era menor.
A casa e a chaminé,
o céu que a protege,
metade lua, metade sol,
metade de mim lá.
Tiraram a mesa de centro
onde eu sentava
para apreciar a pintura,
entrava eu ali dentro,
caminhava pela rua, seguia
o rumo do mar
e me atirava para me molhar.
O sol foi embora, venceu
seu contrato?
A lua até que ainda dá
para enxergar.
Não respeitam mais os
quadros,
este, tá atrás de uma
porta, agora,
sem respirar.
A mesa passou a servir
para empilhar
qualquer troço e não mais
pra sentar.
Também para ver o quê
se mudaram o quadro
de lugar.
‘Inda dá pra ver de
esguelha, de viés,
a lua, uma vírgula,
parte da casa e sem chaminé.
Quiçá por caridade
encontrarei a outra metade,
o ponto final, o sol, a rodela,
olhando o
que me falta,
pela janela.