Chuveiros elétricos, Telefonemas

chuveiros elétricos, telefonemas

amigáveis de pessoas que há

muito não vemos,

ou quartetos de Beethoven,

na melhor hora da noite,

quando todos dormem, e as

televisões são desligadas.

Apenas outra janela em toda

a rua,

permanece com a luz acesa.

Eu saúdo a tua luta

amigo,

insone remoendo sozinho

perdas, fraturas e esperas.

Beberei neste instante em tua

homenagem, e saudarei

todos os loucos e solitários

de todos os tempos,

que acenderam suas luzes a janela e viram

a noite escoar

sem que houvesse com a aurora

alguma resposta.

cartas de antigos colegas reencontradas

no fundo da gaveta, a rolha do vinho

que você bebeu com o seu amor

naquela manhã

milagrosa

guardada como um

amuleto, ou o farfalhar

do vestido

da linda garçonete do seu restaurante favorito,

soando melhor que Johann Sebastian Bach

mesmo ante toda privação e melancolia,

como um Napoleão em Santa Helena,

e ante toda desesperança e estupidez

como um prisioneiro de Auschwitz,

mesmo que os anos não tragam

nenhuma recompensa

a minha quixotesca jornada

e minha pequena música

não pertube

o silêncio

eu trarei

ao meu

pensamento

a garra

necessária

para continuar

Daniel Barbosa
Enviado por Daniel Barbosa em 07/12/2010
Código do texto: T2658649
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.