Chuveiros elétricos, Telefonemas
chuveiros elétricos, telefonemas
amigáveis de pessoas que há
muito não vemos,
ou quartetos de Beethoven,
na melhor hora da noite,
quando todos dormem, e as
televisões são desligadas.
Apenas outra janela em toda
a rua,
permanece com a luz acesa.
Eu saúdo a tua luta
amigo,
insone remoendo sozinho
perdas, fraturas e esperas.
Beberei neste instante em tua
homenagem, e saudarei
todos os loucos e solitários
de todos os tempos,
que acenderam suas luzes a janela e viram
a noite escoar
sem que houvesse com a aurora
alguma resposta.
cartas de antigos colegas reencontradas
no fundo da gaveta, a rolha do vinho
que você bebeu com o seu amor
naquela manhã
milagrosa
guardada como um
amuleto, ou o farfalhar
do vestido
da linda garçonete do seu restaurante favorito,
soando melhor que Johann Sebastian Bach
mesmo ante toda privação e melancolia,
como um Napoleão em Santa Helena,
e ante toda desesperança e estupidez
como um prisioneiro de Auschwitz,
mesmo que os anos não tragam
nenhuma recompensa
a minha quixotesca jornada
e minha pequena música
não pertube
o silêncio
eu trarei
ao meu
pensamento
a garra
necessária
para continuar