Poesia de ventre e sol

Tudo em mim brota

Terra fértil

Frutifico

Multiplico-me

Semente que se abre

Uma parte sobe

Outra sob

Ventre

Qualquer garoa

Vira chuva

Enxurrada. Lava.

Leva-me pro mar

E me exaure

Abre. Expõe. Tritura. Esgota

Eu sou assim:

Fácil de navegar

Casca de nós na correnteza

Leveza de cortiça

Só não tenho porto certo

Chegada

Sou solto

Ninguém me põe ferros

Âncora

Eu sou meu freio

Arreio

Sei o que importa

O preciso

Navego em mim solitário

Por fora tenho dono

Quem me dome

E consuma

Quem reconhece-me como seu

Por dentro sou cavalo solto

Louco na pradaria

Sem face

Multidão

Tenho para a platéia

Riso de todos os dentes

Por dentro só o risco

Faca cega

Fio de navalha

Caminho estreito

Uivo solitário

Por fora tenho sono

Obrigação

Salário

Concreto e o certo

Escorreito

Por dentro sou raio

Tempestade

Abstrato

Impreciso

No caos habito e me deito

Bebo fuligem da cidade ébria

Regozijo

Regurgito tudo

Matéria prima. Rima. Loa. Poeresia.