UM POEMA
Um poema não se faz
Com simples versos rimados
Formatados com primor
Pois ele tem vida própria
Corpo e alma submersos
Nos mistérios mais complexos
Vida própria por si só
Arrancada da garganta
Sufocada feito um nó.
Tem, também, sua forma própria
Pois é feito de palavras
Serenas e apaixonadas
No forno e fogo da dor
Do desamor, desencanto,
Mas também da linda flor
Que surge da terra boa
Florescendo, assim, à toa
Nos vales e nos canteiros
Tornando-se o viajeiro
Da beleza multicor.
Também esparge sementes
E tudo isso é tão bom!
Pois nos oferta saudades
Buscando nas vãs miragens
Esperança, novo som.
A alegria renasce
Enfeitando a paisagem
Pintada tom sobre tom.
Um poema é uma espera
Uma cadência, um relato
Na madrugada silente
Falando à alma da gente
Daqueles que já se foram
Sem aviso, sem demora
Dos que ficaram ausentes
Na dança negra das horas.
Um poema é liga, soltura,
É tédio, é amargura,
Certeza e incoerência
Que nos conduz à brandura
À raiva e à ternura
Até mesmo à demência.
Se fecha na dor, o poema.
Outras tantas, ele inventa
Histórias muito patéticas
Muitas delas desconexas
Ele só quer fantasias
Quer se vestir de palhaço
E num grande estardalhaço
Morrer de tanta alegria!
Quer nos fazer recordar
Que apesar da vil tristeza
Ainda temos certeza
Que vale a pena cantar!
Um poema é tudo isso
Muito mais ainda é
É plantio, também colheita
É certeza duvidosa
Perspicácia equivocada
É um círculo de horror!
Um poema é isso tudo
Mas tudo isso é amor.