Quartinho dos Fundos
Juntei ao vento o suspiro das coisas desimportantes
Um grampo de cabelo
Uma cutícula de unha
Pelo de gato amarelo listrado
O aroma da broa de fubá
Pétalas vermelhas de uma borboleta
A antena de uma formiga
Os ovários de uma barata
Alguns tocos de cigarro
Papéis, pincéis e tintas.
Os seus olhos dissimulados
Restos de seu cabelo
Pedaços de sua pele
O seu sorriso azul de joaninha.
Peguei tudo e fiz vitamina
E bebi longas doses
Dos restos que juntei
E que agora estão
Para sempre presos a mim.
E continuo catando seus cacos
Enquanto o inteiro de você
Não seja comida suficiente, enfim.
Debruço-me nos fatos
E de todos esses retalhos
Vou procurando o café de hoje
O pão quente de amanhã
Tudo que seja comida
E me mate a vontade de seu espírito
A Fulga de minha cólera
O desejo quente de meu coração.